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Azeite, vinho ou carne devem ter nos rótulos informação sobre a pegada ecológica? “É necessário empoderar o consumidor"

  • Tuesday, 29 September 2020 10:00

Azeite, vinho ou carne são alguns dos produtos que devem ter na sua rotulagem informação quanto à sua pegada ecológica “para que o consumidor possa fazer escolhas informadas”, defendeu o biogeógrafo e Prémio Pessoa Miguel Bastos Araújo durante a conferência “Ação Climática – Desafios Estratégicos”, promovida esta segunda-feira no Porto pelo Ministério do Ambiente.

Se é certo que quanto ao rótulo biológico produtos como o azeite, o vinho, frutos ou legumes estão devidamente rotulados, permitindo ao consumidor escolher se quer ou não “bio”, o mesmo não acontece quanto a qualquer produto alimentar oriundo de outros modos de produção agrícola tendo em conta a sua pegada ecológica. Por esta razão, o investigador especializado em alterações climáticas e biodiversidade defende que “é necessário empoderar o consumidor para que este possa fazer escolhas quanto ao impacto ambiental do que consome”.

Quando se compra um garrafa de azeite no supermercado, tirando a informação sobre a sua região de origem, nada nos diz sobre se é oriundo de olival superintensivo ou tradicional e qual o seu impacto em termos de emissões de gases de efeito de estufa, de consumo de água ou de danos na biodiversidade. O mesmo acontece quando se compra um bife de vaca, um dos produtos alimentares que estão “no topo da ineficência”, já que, explica o biogeógrafo, “por cada duas unidades de calorias de um bife perdem-se 98 unidades no processo de produção”.

Miguel Bastos Araújo chamou também a atenção para o facto de “há décadas andarmos a brincar à sustentabilidade” e de “estarmos a falhar nas metas”. E lembrou que para se preservar 30% do território como áreas protegidas, como defende o Pacto Ecológico Europeu, "temos de blindar parte desse território” e não permitir, como acontece no sudoeste alentejano, que nele se faça agricultura intensiva. “Temos de reforçar a proteção das áreas protegidas e ter cuidado com o que é feito lá dentro”, sublinha.

A questão surgiu durante um debate sobre alterações climáticas e agricultura, enquadrado na conferência promovida pelo Ministério do Ambiente dedicada à “Ação Climática – Desafios Estratégicos”, que se realizou esta segunda-feira na Alfândega do Porto. Na abertura do painel, a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, lembrou que Portugal tem uma “Agenda da Inovação – Estratégia da Agricultura 20-30” e que “as nossas opções individuais e coletivas são responsáveis pelo ambiente e pela preservação dos recursos”. A ministra destacou sobretudo “o potencial de crescimento e de inovação” e a necessidade de termos “uma agricultura mais competitiva [a pensar em exportações], mas também mais organizada para cadeias curtas e mercados locais”.

“O HIDROGÉNIO NÃO É UM DELÍRIO”

Já na primeira mesa redonda do evento, dedicada à ação climática e recuperação económica, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, frisou a importância das políticas ambientais para a criação de riqueza, sublinhando que “o ambiente não pode ter uma política reativa e que tem mesmo de ter uma política ativa e de prioridade de investimentos”. Lembrando a prioridade dada pela presidente da Comissão Europeia aos investimentos na sustentabilidade como motor da recuperação económica, disse que “Portugal quer liderar o processo”. E que o país “já provou que não há uma relação feliz entre emissões poluentes e crescimento da economia”, isto porque, Portugal conseguiu baixar as suas emissões em 8,7%, quando a União Europeia as reduziu em 4,3%., fazendo crescer a economia em 2018.

Resta saber qual será o resultado em 2020, já que, apesar da potencial quebra das emissões devido ao confinamento decretado pela pandemia de covid-19 durante uma parte do ano, “as centrais a carvão do Pego e de Sines têm ainda uma carga de carvão para queimar em potência máxima em dois ou três meses”, antes do anunciado fecho, alertou o ambientalista Francisco Ferreira. O dirigente da Zero também revelou algumas reticências quanto ao entusiasmo do Governo em relação à aposta no hidrogénio, alertando para o risco de se “alcatifar zonas inteiras do país com painéis solares”, para funcionar como pontos de interligação.

Já o ministro Matos Fernandes defendeu que Portugal está a liderar no hidrogénio e que “é um disparate esperar pelos outros países quando temos condições tão boas". E o consultor do Governo para o programa de recuperação económica, António Costa Silva, defendeu que “o hidrogénio não é um delírio tecnológico. É o gás mais abundante do universo”.

Costa Silva, que vem do sector do petróleo, lembrou que pela primeira vez na História a Bolsa de Nova Iorque negociou valores negativos do petróleo em março de 2020 e que “há grandes petrolíferas como a Exxon Mobil a sair do mercado de capitais”. Nesta “encruzilhada”, frisou, a aposta no hidrogénio “tem de ser compreendida no contexto de descarbonização da economia” . Por isso disse não perceber o que chama “guerras tribais” em torno do hidrogénio em Portugal.

Fonte: Expresso
  • Last modified on Tuesday, 29 September 2020 10:36