Em algum momento da vida, irá se deparar com essa questão: açúcar ou adoçante? A resposta pode estar associada a um estilo de vida ou a uma escolha sem critério - o que a longo prazo pode provocar efeitos colaterais. O CORREIO procurou nutricionistas e médicos para explicar a diferença entre os dois produtos e indicar a melhor opção para cada situação.
Os açúcares são fontes importantes de nutrientes e não devem ser excluídos totalmente da dieta. Seja em grãos ou na forma líquida, são produtos processados e, quando consumidos em excesso, podem levar à obesidade e outras complicações.
Os especialistas concordam em um ponto: o ideal é fazer uma reeducação alimentar para diminuir o desejo de comer doces. “O ideal é ir tirando o sabor doce da sua vida, adoçando menos os alimentos”, explica a endocrinologista Paula Velasco. Com a reeducação é possível até parar de consumir o açúcar ou o adoçante ficando apenas com aqueles encontrados em produtos naturais, como as frutas.
E atenção: aquela vontade de comer alimento doce pode ser mesmo um vício. “Hoje em dia tem se discutido isso amplamente. O nosso cérebro vicia-se em açúcar, principalmente na primeira infância. O recomendado é que nenhum açúcar seja dado a as crianças até os 2 anos, só o dos alimentos naturais. Porque o paladar das crianças é muito aberto ao doce, e é nos primeiros anos de vida que se vicia em açúcar. Além disso, previne-se doenças como obesidade, hipertensão e diabetes”, explica a endocrinologista.
Açúcares
Os mais comuns tipos de açúcares são refinado, cristal, mascavado e demerara - além do ‘emergente’ açúcar de coco. O refinado - mais claro e fino - é o mais modificado e menos nutritivo. Ele passa por processo industrial, que adiciona componentes químicos. O mais indicado por três nutricionistas ouvidos pelo CORREIO é o açúcar de coco, que se tornou popular por promover um baixo índice glicémico - ou seja, quando as moléculas são quebradas de maneira mais lenta pelo organismo.
O problema é o preço. Portanto, o melhor é investir no demerara - por passar por menos processos de refinamento, ter também baixo índice glicémico e ser mais em conta. “Mas é sempre importante lembrar que não deixa de ser açúcar e, por isso, não deixa de estimular um pico de insulina, da mesma forma”, explica a nutricionista Camila Berbert.
Já o mascavado é obtido diretamente do caldo de cana recém-extraído, passa por um refinamento leve e não recebe nenhum aditivo químico. Por isso, é o preferido pela nutricionista Fernanda Orichio. Para ela, a escolha dos colegas de profissão pelo demerara é o risco de dejetos de insetos no mascavado - tendo em conta a sua forma de produção.
Mas, cuidado: para além do índice glicémico, os açúcares possuem calorias. “O problema do açúcar também são as calorias. Em excesso, pode engordar. Coisa que não se tem nos adoçantes”, explicou a nutricionista Camila Calfa.
A nutricionista Íçara Santos, de 27 anos, opta pelo uso do açúcar demerara há três anos. “O que aprendi é que o adoçante é específico para quem tem diabetes. Tentei diminuir o uso açúcar e só tenho o demerara na minha casa. Ainda não consegui retirá-lo totalmente da minha dieta. Fora de casa é mais complicado. Quando não tem, eu acabo utilizando o branco”, conta.
A endocrinologista Paula Velasco explica que todo açúcar tem os mesmos efeitos - seja de coco, mascavado ou refinado. “Eles aumentam o índice glicémico e a insulina, o que ajuda no ganho de peso. O melhor em usar os menos processados é porque eles levam menos produtos químicos para ‘branquear’. Mas todos são açúcar do mesmo jeito e devem ser usados com moderação”, conclui.
Adoçantes
Eles surgiram como alternativa para a ingestão do açúcar - e com menos calorias. Mas a indicação dos adoçantes ainda não é consenso, principalmente por conta da quantidade de “gotas” - quando utilizada de forma indiscriminada. O poder desses líquidos é 100 a 500 vezes maior do que o açúcar.
“Não adianta colocar 10 gotas no café. Você vai continuar estimulando o paladar pelo doce e a quantidade ingerida vai aumentar a velocidade de absorção da glicose”, explica Camila Calfa.
Os adoçantes mais comuns são aspartame e sacarina (à base de petróleo), sucralose (da cana-de-açúcar), stevia (da planta Stévia Rebaudiana) e xilitol (encontrados nas fibras de vegetais). Para preparar alimentos que vão ao forno, os menos indicados são a sucralose, que libera toxina em altas temperaturas, e o aspartame, que perde suas proteínas quando aquecido.
Os tipos mais comercializados no Brasil eram à base da sacarina e do aspartame. No entanto, houve uma mobilização no sentido de informar que, a longo prazo, os produtos poderiam causar cancro. Com isso, os nutricionistas indicam sempre adoçantes naturais, principalmente o xilitol que, por ser caro, acaba sendo menos utilizado, e o stevia.
“Com os adoçantes, de maneira geral, quando é utilizado de forma crónica, o organismo responde como se fosse absorver uma grande quantidade de hidratos de carbono e, com isso, acelera a ingestão de outros hidratos de carbonos, o que não é bom”, explica a nutricionista Camila Berbert.
O Ministério da Saúde do Brasil indica o uso de adoçantes apenas como parte do tratamento em diabéticos, em pessoas com excesso de peso ou os que estão a tentar controlar o peso. “O consumo dos adoçantes deve ser feitos por pessoas que querem perder peso. Diferente do açúcar. Para pessoas magras e que praticam atividade física intensa, pode até ser benéfico”, explica o endocrinologista Durval Sobreiro.
Fonte: correio24horas.com.br