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As alergias alimentares são delicadas e perigosas

  • Thursday, 09 August 2018 10:14

Um caso: antes da descolagem, os passageiros de um avião são avisados que no voo está uma menina alérgica ao amendoim. Um viajante incauto decide abrir uma lata de amendoins nas alturas e a criança entra em choque anafilático. A mãe, enfermeira e precavida, aplica-lhe uma injeção de adrenalina e evita o pior.

Outro caso: um miúdo aleija-se na testa numa brincadeira no recreio da escola. De imediato, vão buscar gelo que esteve colado a peixe no congelador. A testa da criança fica bastante vermelha, há uma reação, tem de ir ao hospital. Descobrem que a criança é alérgica ao peixe. Duas situações reais que poderiam não ter tido um final feliz.

Uma alergia alimentar não acontece apenas pela ingestão de um alimento. A inalação e o contacto com a pele também podem ser responsáveis pela alergia e causar sintomas como comichão, vermelhidão, dificuldades em respirar, pieira, distúrbios gastrointestinais, perda de consciência ou diminuição da pressão arterial.

O mundo das alergias alimentares tem surpresas, ratoeiras e perigos. Usar o mesmo óleo para fritar rissóis de camarão e de carne não é aconselhável. Uma fissura na fritura pode provocar complicações a quem é alérgico a marisco e come um rissol de carne. Usar a mesma água para cozer vários alimentos também não é recomendável. Nunca se sabe se na panela se misturam vegetais que, em contacto, podem causar alergias.

Tal como cortar pão com a mesma faca que cortou queijo. Um beijo ou a partilha de instrumentos de sopro podem desencadear problemas. E até há produtos não alimentares que podem causar alergias alimentares: “No contexto escolar e lúdico, determinados materiais como o giz, os lápis de cera ou os balões podem ser perigosos porque podem conter a proteína do leite. No caso do giz, quer pelo contacto com a pele, quer pela inalação do pó, pode ser desencadeada uma reação. Soprar um balão também pressupõe contacto com a boca, o que pode desencadear igualmente uma reação”, avisa Inês Pádua. E os cremes de banho que indicam que têm amêndoas, têm mesmo amêndoas.

Adrenalina + INEM

A alimentação mudou: menos vitaminas, menos minerais, menos ómega 3. Ao mesmo tempo, mais poluição, vidas mais sedentárias que não fortalecem o sistema imunitário, uso indevido e exagerado de antibióticos. O corpo acaba por reagir através da alimentação e as alergias aparecem. Como responder? Evitando o alergénio que provoca a reação.

E há ainda as confusões entre alergias e intolerâncias. Na primeira, o sistema imunitário entra em ação, na segunda os sintomas são sobretudo gastrointestinais, cólicas e diarreias. Ambas são reações a alimentos. Mas a primeira é mais perigosa.

“É comum encontrarmos pessoas que dizem ser alérgicas ao leite porque se sentem mal a beber leite, mas essas mesmas pessoas comem bolachas. Um verdadeiro alérgico ao leite não pode comer nada que tenha o mínimo vestígio de leite, o que inclui bolachas, biscoitos, uma migalha de bolo, o que quer que seja. Caso consuma estamos a falar de um risco de vida, não apenas de uma má disposição”, garante Inês Pádua. “Estes conceitos errados que se perpetuam em todo o lado, e que são quase uma moda, só retiram a devida importância à alergia, fazendo com que o problema seja desvalorizado.”

200 mil alérgicos

As alergias alimentares podem aparecer em qualquer idade, não avisam, e as reações podem ser completamente diferentes umas das outras. As alergias ao leite, ao ovo, à soja e ao peixe são mais comuns nas crianças. Nos adultos, as mais habituais são ao peixe, marisco e frutos secos.

Os dados indicam que 200 mil portugueses têm alergias alimentares, e que estas são a principal causa de anafilaxia de crianças até aos quatro anos. Estima-se que 17 milhões de europeus sofrem de alergia alimentar.

André Moreira, médico imunoalergologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, lançou um desafio aos alunos de Imunologia da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, e assim nasceu um site de receitas à prova de alergias.

É uma plataforma interativa que permite selecionar receitas sem os ingredientes que não se quer incluir na refeição como leite, ovos, trigo, soja, frutos secos. Além disso, contém tabelas nutricionais e vídeos explicativos.

“Continua a existir muito desconhecimento sobre o que é, como se suspeita, como se diagnostica ou como se trata a alergia alimentar. Essa desinformação é potencialmente fatal porque a alergia alimentar pode matar nas situações mais graves”, alerta.

Fonte: Notícias magazine