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A verdade tóxica da comida moderna

  • Monday, 18 March 2019 11:33

Estamos agora a produzir e consumir mais comida do que nunca e, ainda assim, a dieta moderna mata-nos. Como podemos resolver este dilema agridoce?

À semelhança de outros alimentos, as uvas tornaram-se uma peça de engenharia perfeitamente desenhada para satisfazer os consumidores modernos. A maioria das uvas não incluí semente, é sempre doce e o seu consumo duplicou relativamente a 2000 devido à diminuição do seu custo.

A sua disponibilidade durante o ano também revela inúmeras mudanças globais na agricultura pois deixaram de ser um produto sazonal.

Quase tudo o que sabiamos relativamente a uvas mudou, e rápido. No entanto, as uvas são a última das nossas preocupações, sendo um pequeno elemento quando comparado a um universo de transformações alimentares.

Para muitos, a vida está a melhorar, mas a dieta está a piorar. Este é o dilema agridoce dos tempos modernos. Dieta pouco saudável, comida à pressa, parece ser o preço a pagar pela constante evolução dos tempos.

A nossa alimentação é a maior causa de doença e morte mundialmente, sobrepondo-se ao tabaco ou ao álcool.

Em 2015, cerca de 7 milhões morreram devido ao tabaco e 2,75 milhões devido ao álcool, mas a grande fatia, incluí 12 milhões de mortes atribuídas a riscos na dieta, nomeadamente uma alimentação fraca em vegetais, frutos secos e marisco ou dietas altas em carnes processadas e bebidas açucaradas.

A maior disponibilidade de alimentos, opções pouco saudáveis inclusive, e o aumento das porções são fatores preponderantes que contribuem para dietas desequilibradas.

O conteúdo nutritivo das nossas refeições alterou, assim como a psicologia por trás da alimentação também. Muitas das nossas refeições tomam lugar em cenários caóticos, nos quais não existem regras.

Em 2015, Fumiaki Imamura foi o autor principal de um artigo no jornal médico Lancet, onde o mundo da nutrição foi abalado pela conclusão que as dietas de maior qualidade não são encontradas nos países desenvolvidos, mas sim em lugares menos ricos e desenvolvidos, como África.

Nesta pesquisa os padrões alimentares mais saudáveis foram identificados em Chade, Mali, Camarões, Guiana, Tunísia, Serra Leoa, Laos, Nigéria, Guatemala e Guiana Francesa. Os dez piores foram Arménia, Hungria, Bélgica, Estados Unidos, Rússia, Islândia, Letónia, Brasil, Colômbia e Austrália.

O que quer isto dizer perante a fome e falta de alimentos nestes países ditos mais saudáveis? O consumo mais baixo de açúcar e carnes processadas pode dever-se a porções diminutas, no entanto, a qualidade de opções nestes países aproxima-se muito mais das guias de alimentação saudável.

O atual sistema de produção alimentar parece focar-se na quantidade e, por vezes, esquecer a qualidade. É claro o desequilibro entre sustentabilidade e nutrição.

Para reverter o pior das dietas modernas e salvar o melhor é necessário repensar a organização da agricultura, a nossa interação com a comida e rever as políticas que regulam as opções saudáveis.

Fonte: The Guardian