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Projeto português entre os vencedores de iniciativa internacional sobre alimentação saudável

  • Monday, 18 October 2021 10:37

O projeto português Food From The Block é um dos vencedores da iniciativa internacional The Healthy Food Challenge, que pretende promover sistemas alimentares saudáveis com ideias inovadoras e prevenir a obesidade entre as populações mais vulneráveis.

“No meio de tanta qualidade com que nós nos deparamos com os outros projetos, é, de facto, um feito termos conseguido trazer este prémio para Portugal”, disse à agência Lusa Gonçalo Folgado, da associação Locals, que promove o Food From The Block, um projeto que recupera a relação das pessoas com a comida.

O responsável sublinha ainda que esta vitória “é um sinal de que em Portugal há massa crítica para ombrear com todos os outros no globo. Esta é uma mensagem importante de passar, para valorizar a autoestima que os portugueses muitas vezes não têm sobre aquilo que é sua performance e as suas capacidades”.

“Do ponto de vista da literacia alimentar, dá também um sinal claro de que há grupos e associações em Portugal – nos finalistas estavam três projetos portugueses – bastante atentos, que têm iniciativa e querem fazerem parte da mudança”, afirmou Gonçalo Folgado, considerando ainda que, com este projeto, se está a “aprofundar o exercício democrático”.

“Não podemos reduzir a democracia participativa ao voto que expressamos nas urnas”, acrescentou.

Gonçalo Folgado manifestou esperança em que o projeto seja “muito acarinhado pelo público”, alegando que, “além de partir de uma vertente comunitária, é muito ancorado no seio da família”.

“A reinterpretação dos próprios papéis dentro de casa, em que a cozinha pode passar a ser um ‘playground’ (pátio de recreio) onde a família está e convive e, no fundo, é um espaço de partilha, um momento de congregação entre todos. Acho que essa é também uma das partes mais bonitas deste projeto”, considerou.

O Food From The Block, que vai receber um prémio que ronda os 87 mil euros, vai desenvolver-se em Lisboa, em três bairros ‘bip-zip’ (Zonas de Intervenção Prioritária), que são 67 territórios que concentram 25% da população da capital.

A intenção é trabalhar com a comunidade para que as pessoas encontrem um menu que reflita a história do lugar e, à volta desse menu, abrir o bairro para que outros se sentem à mesa e “provem o bairro”.

Os promotores do projeto pretendem agora partir para o terreno, falar com as pessoas, “sem qualquer tipo de pretensão, para perceber em que lugar estão no que toca às questões alimentares e nutritivas”, explicou Gonçalo Folgado, sublinhando a importância de ir para o terreno “sem ideias feitas”.

“A base da nossa metodologia é partir do pressuposto de que são as pessoas que nos vão dizer o que precisam. Obviamente que temos um plano, com atividades e diversas iniciativas, mas o mais importante é o trabalho de campo de levantamento e auscultação, para perceber os desafios quotidianos destas pessoas e os podermos ajudar a fazer escolhas nutricionalmente mais interessantes”, disse também Alice Artur, da organização Joy, um dos parceiros da Locals.

O Food from the Block incide sobre o bairro Dois de Maio (zona ocidental de Lisboa), um dos ‘bip-zip’ da freguesia de S. Vicente e em Marvila, onde a organização Locals já tem trabalho desenvolvido com diversos parceiros. Tudo será filmado, num projeto de 16 meses que dará origem a um documentário.

“Mais uma vez, aqui temos dois objetivos: o primeiro é que efetivamente as pessoas saibam o que está a acontecer, mas, mais do que isso, é podermos inspirar outras pessoas a fazerem coisas similares”, disse Alice Artur, para quem as bases deste projeto “podem ser facilmente replicadas” noutros locais.

O registo do trabalho “é importante não só para dar a conhecer o que fizemos, para que se possa replicar, e para que as pessoas conheçam”, acrescentou a responsável, sublinhando: “Muitas vezes há projetos incríveis que as pessoas nem sabem que estão a acontecer e que, com registo e comunicação, ganham outra dimensão e mais pessoas podem envolver-se e participar”.

Fonte: Greensavers