Portuguese English French German Italian Spanish

  Acesso à base de dados   |   email: qualfood@idq.pt

Estudo espanhol sugere que comer a horas determinadas pode afectar produção bacteriana

  • Monday, 26 November 2018 10:29

Um estudo científico espanhol concluiu que, além do que é consumido, também é importante a hora em que comemos. A investigação foi publicada em Março deste ano no The FASEB Journal, que também explica que os alimentos que ingerimos contêm uma enorme colecção de microorganismos que vivem no sistema digestivo de cada indivíduo – a microbioma intestinal. Estes são sensíveis ao horário das refeições consumidas e podem, em última instância afectar o peso dos seres humanos.

A equipa de investigadores analisou durante várias semanas a saliva de um grupo de teste constituído por 10 mulheres saudáveis de 25 anos, realizadas quatros vezes ao dia, e conseguiram detectar um padrão curioso nas amostras: a diversidade microbiana aumentava e diminuía consoante as horas – durante algumas horas específicas, as salivas recolhidas continham muitos tipos de microrganismos; em outras horas, apresentavam muito poucos.

Todos os testes humanos levantavam-se às 8h da manhã, mas algumas comiam às 14h e outras somente às 17h30. Esta diferença de horário explicou a diferença das culturas bacterianas. No primeiro grupo (as mulheres que comiam às 14h) verificou-se que a diversidade de bactérias diminuía entre as 8h e as 16h e aumentava entre as 16h e meia-noite. No segundo grupo, notou-se o inverso: das 8h às 16h havia mais microorganismos e entre as 16 e meia-noite, menos. De forma a confirmarem que esta tendência se mantinha, os investigadores trocaram os elementos do grupo de testes e certificaram-se que houve também uma mudança idêntica nas bactérias.

Com base nestes resultados, a principal autora do estudo, a professora catedrática de Fisiologia da Universidade de Múrcia e investigadora do Hospital Brigham and Women's da Universidade de Harvard, aconselha que não se coma "até mais tarde que as 15h" depois de se acordar, já que estas questões horárias podem "causar mudanças no microbioma intestinal que, por sua vez, podem favorecer inflamações e a obesidade", disse Marta Garaulet.

Outros estudos realizados com animais já tinham associado o horário das refeições com doenças como a de Crohn (uma inflamação do sistema digestivo), diabetes, hipertensão, aterosclerose, aumento do nível de colesterol e ácido úrico, e intolerâncias alimentares.

O estudo também concluiu que uma dieta alimentar diversificada não compensa as desvantagens de comer fora dos horários "mais benéficos". Garaulet relembra que até agora é de conhecimento geral que uma "dieta inadequada, com pouca fibra, fruta e verdura, e sem incluir cereais integrais" leva à diminuição da diversidade bacteriana, mas também ao seu aumento de bactérias nocivas. "O interessante deste estudo é que os participantes comiam uma dieta mediterrânica equilibrada, que em si mesma é favorável à diversidade bacteriana. Ainda assim, foi possível observar estas mudanças bacterianas", comentou.

Os autores indicam ainda que este estudo foi pequeno academicamente e que será necessário mais pesquisa para se tirar conclusões mais gerais.

Fonte: Sábado