Portuguese English French German Italian Spanish

  Acesso à base de dados   |   email: qualfood@idq.pt

Empresa americana produz ketchup com tomates cultivados em solo com condições idênticas às de Marte

  • Monday, 15 November 2021 12:25

Podia ser um ketchup produzido em Marte - não o é, mas quase. A Heinz cultivou tomates "marcianos", em solo com condições idênticas às encontradas no planeta vermelho, e a colheita permitiu produzir ketchup "extraterrestre".

A Heinz, marca conhecida pelos seus molhos e condimentos, conseguiu criar um ketchup feito exclusivamente a partir de tomates cultivados em condições muito semelhantes às do solo encontrado em Marte. A iniciativa foi levada a cabo em conjunto com o Aldrin Space Institute, e com uma equipa de 14 astrobiólogos num laboratório chamado “The Red House“.

A experiência, idealizada por especialistas em tomates para a produção de ketchup Heinz há dois anos, consistiu no cultivo dos tomates em estufas que recriam as condições do planeta vermelho, desde a temperatura à qualidade da água e do solo. Foram usadas mais de três toneladas de solo do Deserto de Mojave, na Califórnia, que tem muitas características semelhantes às do solo de Marte.

“Iniciámos a experiência analisando o solo de Marte, e a partir daí pudemos fazer uma lista restrita do nosso vasto catálogo de sementes da Heinz a quatro potenciais opções que podiam ser bem sucedidas. Duas delas conseguiram, pelo que fomos capazes de criar uma cultura em que os nossos tomates prosperaram”, disse Gary King, chefe de agricultura da Kraft Heinz à Florida Tech News.

Num comunicado à imprensa, a Heinz afirma que “a equipa produziu com sucesso uma colheita de tomates Heinz, a partir das sementes de tomate da marca, com as qualidades exactas que passam os rigorosos padrões de qualidade e sabor para se tornarem no seu icónico ketchup.”

A equipa contou com “especialistas na análise das condições difíceis do solo, na colheita das sementes perfeitas e na implementação de técnicas agrícolas líderes a nível mundial”, que “desempenharam um papel crucial” naquele que a Heinz classifica como “um dos maiores projectos do seu género relacionados com Marte alguma vez realizados”.

Um passo mais perto da agricultura em Marte?

Esta não foi a primeira tentativa de produzir agricultura viável em Marte. Embora todos os estudos feitos ainda não tenham ido além das simulações – como foi feito neste caso – já foram cultivadas com sucesso colheitas de quinoa, ervilhas, rúcula, cebolas, couve, trigo, agrião, entre outros.

No entanto, este projeto foi o primeiro que almejou recriar colheitas de longa duração em condições semelhantes às de Marte. “Até agora, a maioria dos esforços em torno da descoberta de formas de agricultura em condições idênticas às de Marte são estudos de crescimento de plantas a curto prazo. O que este projecto tem feito é olhar para a colheita de alimentos a longo prazo”, explica Andrew Palmer, líder da equipa do Aldrin Space Institute, acrescentando que a iniciativa “nos permitiu ver quais são as possibilidades de produção de alimentos a longo prazo para além da Terra”.

A experiência torna cada vez mais real a possibilidade de produção alimentar a longo prazo em Marte. Mas apesar do seu sucesso, ainda há um longo caminho a percorrer, cheio de obstáculos, até a agricultura em verdadeiro solo marciano ser possível.

As condições agrícolas em Marte não são perfeitas: a temperatura do planeta vermelho é cerca de 50ºC mais baixa do que a da Terra, e o ar é composto na sua maioria por dióxido de carbono. Marte também não tem uma magnetosfera – um campo magnético que protege o planeta da radiação solar. Além disso, o solo é árido e não contém os nutrientes necessários à produção de alimentos – seria necessário incorporar no solo componentes como bactérias e micróbios produtores de oxigénio, e remover outros, como compostos químicos presentes no solo marciano, de acordo com Paul Sokoloff, botânico no Museu da Natureza Canadiano e participante na Mars Desert Research Station, em Utah, nos EUA – o maior projeto simulador das condições de Marte existente.

No entanto, os cientistas que conduziram a experiência esperam que produzir colheitas agrícolas em Marte possa representar uma nova fonte de alimento para os astronautas que integram as missões espaciais – uma missão para Marte pode durar entre dois a três anos, deixando os astronautas dependentes apenas de alimentos liofilizados (processo através do qual os alimentos são congelados sob vácuo e desidratados, podendo durar até 30 anos). E, se queremos estabelecer presença no planeta vermelho, é fundamental encontrar uma maneira de produzir alimentos em condições difíceis.

“Este processo está praticamente na sua infância. E penso que quando vemos coisas como Perdido em Marte, isso tem influenciado a opinião de muitas pessoas sobre o que poderíamos fazer em Marte. Mas isso não é um documentário”, diz Palmer, referindo-se ao filme de 2015 em que o astronauta e botânico Mark Watney é deixado para trás em Marte pela missão espacial de que fazia parte e encontra uma maneira engenhosa de plantar batatas no planeta inóspito, sobrevivendo à base do alimento por mais de um ano.

“A realidade é que eu acredito firmemente que podemos fazer isto. Penso que podemos cultivar alimentos em Marte. Será que este estudo me diz que o processo é mais difícil? Sim. Vai ser ainda mais difícil do que eu já pensava, mas isso não é razão para pensar que não o podemos realizar”, continua.

No entanto, para quem estiver muito curioso por provar o ‘HEINZ Tomato Ketchup Marz Edition‘, há más notícias. A edição especial, que foi apresentada pela marca na semana passada, não irá estar disponível para venda, pelo menos nos próximos tempos. A edição limitada de ketchup embarcou numa viagem espacial, atingindo 23 milhas acima da superfície da Terra e temperaturas abaixo dos 70ºC negativos, regressando depois à Terra. Apenas alguns sortudos na Heinz, a nível interno, poderão provar o molho extraterrestre.

Fonte: Visão

  • Last modified on Monday, 15 November 2021 14:35