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Quando se compra água ao preço do peixe

  • Thursday, 22 March 2018 10:54

Alcides Couceiro trabalhou 30 anos na indústria de congelados. "Até os 16 gramas da embalagem de plástico do peixe eu descontava do peso. Foi por isso que não enriqueci, ao contrário de outros. É que os meus colegas não faziam o mesmo do que eu. O peixe que vinha de Espanha, então... Eu costumava dizer, por graça, que os espanhóis vendiam mais água em Portugal do que os nossos serviços de abastecimento."

A água a que Alcides se refere é chamada de "água de vidragem" - a camada de gelo que envolve o peixe, e que a lei determina que não seja contabilizado no peso do produto (daí o termo "peso líquido escorrido"). Muitas vezes, no entanto, as empresas não cumprem a lei. No artigo de capa da semana passada, as burlas com a água de vidragem eram apontadas pelas autoridades e responsáveis do setor como uma das fraudes alimentares mais comuns em Portugal.

Foi precisamente uma situação dessas com que Alcides se deparou: comprou duas postas de perca e, por curiosidade, pesou-as depois de descongeladas. "Num quilo de perca, 100 gramas era água", lamenta. "É vergonhoso. Que levem mais dinheiro pelo peixe, mas não enganem as pessoas."

Outro leitor da VISÃO, Luís Santos, conta uma história semelhante, mas com polvo - uma marca branca de um hipermercado que, acusa, vende sistematicamente "água de vidragem ao preço do polvo". "Basta pesar uma embalagem de polvo congelado, no próprio hipermercado, e compará-la com o rótulo - o peso indicado no rótulo (peso líquido escorrido, sem água de vidragem) deveria ser pelo menos 20% inferior ao peso do produto congelado indicado na balança que encontra, por exemplo, na zona da fruta. Mas, como poderão verificar, tal não acontece: os 2 pesos são muito aproximados, o que significa que a água de vidragem é contabilizada no preço a pagar."

Luís Santos diz que se queixou à ASAE, mas o processo esbarrou na Justiça. "A ASAE chegou a enviar o processo ao Ministério Público, mas este mandou arquivar, sob pretexto de não ter a embalagem original - mas foram enviadas as faturas e filmes onde se podia ver a embalagem e o respetivo rótulo intactos, a pesagem inicial, o processo de abertura e a pesagem final. Foram enviadas informações à ASAE que evidenciavam uma prática repetida, ao longo de muito tempo (pelo menos dois anos)."

Polvo que emagrece é também o protagonista de outra situação relatada à VISÃO. Henrique Costa queixa-se de ter comprado, por 22 euros, duas embalagens de polvo - uma com 0,933 kg e outra com 1,3 kg, para um total de 2,1 kg - que, depois de cozido, redundou em pouco mais de 600 gramas (menos de um terço do peso inicial). "Assim se aumentam os lucros das empresas em produtos que não são baratos mas que, com o uso da água, conseguem aumentar substancialmente os lucros entre o custo da matéria prima e o produto vendido ao público", conclui o leitor, que envia fotos a comprovar o caso.

Fonte: Visão

  • Last modified on Thursday, 22 March 2018 10:55