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Produção de carne é responsável por 60% de todos os gases da indústria alimentar que geram aquecimento global

  • Tuesday, 14 September 2021 10:09

A indústria alimentar a nível mundial é responsável por um terço de todos os gases emitidos pela atividade humana com efeito no aquecimento global, com a produção de carne e de animais para abate a destacar-se por gerar 60% destas emissões nocivas para o clima do planeta - segundo revela um novo estudo, publicado na revista científica "Nature Food".

"As emissões estão num limite superior ao que esperávamos, até para nós foi uma surpresa", considera Atul Jain, cientista climático da Universidade de Illinois nos EUA e coautor do artigo da "Nature Food".
 
Os investigadores apuraram que a produção de carne gera o dobro dos gases com efeito de estufa relativamente à produção de alimentos com origem vegetal, e que só um quilo de carne de vaca é responsável por 70 quilos destas emissões, enquanto um quilo de trigo emite apenas 2,5 quilos.
 
"Este estudo mostra todo o ciclo do sistema de produção de alimentos e os legisladores podem querer usar estes resultados para pensar sobre a melhor forma de controlar as emissões de gases com efeito de estufa", frisa ainda o cientista da Universidade de Illinois.
 
CARNE BOVINA É A MAIS PROBLEMÁTICA PARA O CLIMA
 
O novo estudo concluiu que todo o sistema de produção de alimentos, incluindo o uso de máquinas agrícolas, a pulverização de fertilizantes ou o transporte de produtos, causa 17,3 mil milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano. Este volume representa mais do dobro de todas as emissões geradas nos Estados Unidos, e 35% das emissões globais.
 
A parte mais problemática é mesmo a da produção de carne, com a criação e abate de animais, especialmente bovinos, com um impacto elevado no ambiente e no clima face, por exemplo, ao processamento de fruta.
 
De acordo com o estudo, a produção de vacas, porcos e outros animais para alimentação, além das respetivas rações, é responsável por 57% de todas as emissões causadas pela produção de alimentos, em que 29% provêm do cultivo de produtos à base de plantas, sendo o restante originado por outros usos da terra, como algodão ou borracha.
 
Só a carne bovina é responsável por um quarto das emissões produzidas pela produção e cultivo de alimentos. Os cientistas lembram ainda que os animais que pastam precisam de muita terra, que muitas vezes tem de ser desmatada para este fim. calculando-se que no mundo a maior parte das terras cultiváveis ​​sejam usadas para alimentação do gado, que também produz grandes quantidades de metano, gás com efeito de estufa.
 
Para os autores do estudo, as sociedades devem ter consciência destas discrepâncias na indústria alimentar, que geram impactos diretamente no clima do planeta. "Eu sou um vegetariano estrito, e parte da motivação para este estudo foi descobrir a minha própria pegada de carbono. O objetivo não é o de forçar as pessoas a mudarem as suas dietas, o que é uma escolha pessoal, mas se as pessoas estão preocupadas com as alterações, devem considerar seriamente uma mudança nos seus hábitos alimentares", sublinhou Atul Jain ao "The Guardian".
 
Os investigadores construíram um banco de dados, que permite um perfil consistente das emissões geradas por 171 colheitas diferentes e 16 tipos de produções animais, com dados de mais de 200 países. A conclusão é que a América do Sul é a região do globo com a maior parcela das emissões de alimentos de origem animal, seguindo-se o sul e sudeste da Ásia, e depois a China.
 
Os cálculos do estudo sobre o impacto da carne no clima superam em muito as estimativas anteriores, designadamente as da Organização para Alimentos e Agricultura da ONU, que tinha avançado que cerca de 14% de todas as emissões de gases com efeito de estufa provinham da produção de carne e leite.
Fonte: Expresso
  • Last modified on Tuesday, 14 September 2021 10:34