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Insetos à mesa: Nutrição sustentável ou risco alimentar?

  • Monday, 01 September 2025 08:29

A aprovação de espécies de insetos para consumo humano na União Europeia acendeu um debate que, embora possa causar alguma estranheza a muitos, é cada vez mais urgente: afinal, devemos mesmo comer insetos? Esta questão pode ser vista sob múltiplas lentes. Da saúde à segurança alimentar, os argumentos, embora distintos, convergem para uma realidade inevitável: os insetos vieram para ficar.

Com níveis de proteína entre 20% e 75% do peso seco, os insetos são uma fonte nutricional altamente promissora, com muitas espécies superando mesmo os tradicionais produtos de origem animal. Além disso, fornecem aminoácidos essenciais, gorduras saudáveis (como ómega-3 e ómega-6), vitaminas (especialmente a B12) e minerais como ferro, zinco e magnésio, todos eles cruciais para a função imunitária, saúde cardiovascular e desempenho metabólico. Mais do que isso, há evidências de que o consumo de insetos pode melhorar a saúde intestinal, ajudar a regular o açúcar no sangue e até reduzir inflamações.

 No entanto, a aceitação do público ocidental ainda é um desafio. A familiaridade, o modo de apresentação (por exemplo, farinha de inseto em vez do inseto inteiro) e contextos sociais positivos podem ajudar a ultrapassar esta barreira cultural. O potencial para mitigar deficiências nutricionais, como a anemia ou a carência de vitamina B12, torna ainda mais urgente educar e informar a sociedade sobre as vantagens desta fonte alimentar alternativa.

Esta mudança de paradigma alimentar não é apenas uma hipótese teórica ou uma inovação de nicho. A própria Organização das Nações Unidas tem destacado o papel crescente dos insetos na alimentação global e incentivado a ampliação da oferta destes produtos nos supermercados.

 Do ponto de vista da segurança alimentar, destacam-se os significativos avanços regulatórios na União Europeia, nomeadamente com o Regulamento (UE) 2015/2283, que clarificou o processo de aprovação dos chamados "novos alimentos". A EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) desempenha um papel central, avaliando rigorosamente os riscos microbiológicos, químicos e alergénicos associados a cada espécie proposta para consumo. A presença de bactérias como Salmonella ou Listeria, fungos produtores de micotoxinas ou metais pesados são preocupações reais que exigem práticas rigorosas de produção e controlo de qualidade.

Mitigar estes riscos implica aplicar boas práticas agrícolas, garantir rações seguras, processamentos adequados (como secagem ou esterilização), rotulagem clara e rastreabilidade em toda a cadeia de produção. Ainda assim, persiste a necessidade de maior harmonização internacional, para facilitar o comércio transfronteiriço e garantir padrões uniformes de segurança.

 No cruzamento entre inovação alimentar, saúde pública e sustentabilidade ambiental, o consumo de insetos representa um terreno fértil para soluções que respondam à pressão crescente sobre os sistemas alimentares globais. A integração dos insetos na nossa dieta pode parecer ousada, mas talvez seja precisamente essa ousadia que o futuro exige.
 
Fonte: Jornal de Notícias
  • Last modified on Monday, 01 September 2025 08:50