A malnutrição afeta cerca de um em cada três idosos em Portugal, um número que tende a aumentar durante o inverno devido à combinação entre isolamento social, menor atividade física e alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento. O alerta é reforçado por especialistas em nutrição clínica e pela Fortimel (Danone Nutricia), que sublinham a urgência de intervir precocemente e de reforçar o papel da indústria alimentar na resposta a esta condição silenciosa.
Isolamento e vulnerabilidade: um problema estrutural
De acordo com dados recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), 40% dos idosos com mais de 80 anos vivem sozinhos, o que equivale a mais de meio milhão de portugueses com 65 ou mais anos. Com uma taxa de crescimento anual de cerca de 2%, Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, o que acentua o impacto de condições como a malnutrição.
O isolamento, a perda de apetite, as dificuldades em mastigar ou engolir e a redução do rendimento disponível são fatores que, combinados, aumentam a vulnerabilidade nutricional. Em contexto clínico ou institucional, os índices de malnutrição ultrapassam frequentemente os 50%, segundo estudos internacionais publicados no European Journal of Clinical Nutrition e no Journal of the American Geriatrics Society, assim como o Malnutrition in Older Adults - Recent Advances and Remaining Challenges, por Kristina Norman, publicado na Nutrients; e o Best estimates of malnutrition risk in European elderly, por S. Leij-Halfwerk, na Clinical Nutrition.
Um problema clínico com impacto económico
A malnutrição em idosos não é apenas um problema de saúde individual: tem implicações diretas nos custos hospitalares e nos sistemas de cuidados continuados. Está associada a internamentos prolongados, maior incidência de complicações pós-operatórias e recuperações mais lentas.
“Mesmo pequenas perdas de peso em idosos podem afetar significativamente a força, a imunidade e a capacidade de recuperação”, explica Margarida Graça Santos, médica especialista em Medicina Geral e Familiar. “A perda de apetite ou cansaço não devem ser encarados como sinais normais da idade. São indicadores clínicos que exigem intervenção nutricional precoce.”
O papel da indústria alimentar e nutricional
A indústria alimentar assume um papel determinante no desenvolvimento de soluções adaptadas às necessidades geriátricas, desde alimentos enriquecidos em proteínas e micronutrientes até suplementos nutricionais orais formulados como alimentos para fins medicinais específicos (FSMP) - categoria regulamentada pelo Regulamento (UE) n.º 609/2013.
Estes produtos, como os desenvolvidos pela Danone Nutricia, destinam-se à gestão nutricional da malnutrição associada à doença, ajudando a complementar a ingestão alimentar quando a dieta habitual não é suficiente. A formulação é cuidadosamente equilibrada para otimizar o aporte de energia, proteínas, vitaminas e minerais, sem comprometer a digestibilidade ou o sabor - fatores críticos na adesão dos idosos a planos alimentares terapêuticos.
“Refeições pequenas, densas em energia e proteína, com cores e sabores apelativos, são essenciais para estimular o apetite. Quando não bastam, os suplementos nutricionais orais devem ser integrados sob orientação médica ou nutricional”, sublinha a especialista.
Tendências e oportunidades para o setor
O envelhecimento populacional está a redefinir a agenda de inovação alimentar. As empresas são chamadas a desenvolver produtos nutricionalmente densos, de fácil consumo e economicamente acessíveis, capazes de responder às necessidades fisiológicas e sensoriais da população sénior.
Entre as principais tendências tecnológicas e de mercado destacam-se:
- Reformulação de produtos tradicionais com maior teor proteico e fortificação em micronutrientes;
- Desenvolvimento de texturas adaptadas a dificuldades de mastigação e deglutição;
- Uso de ingredientes funcionais (como HMB, whey protein, vitamina D ou ômega-3) para preservar massa muscular e função cognitiva;
- Packaging acessível e ergonómico, pensado para utilizadores com mobilidade reduzida;
- Integração de serviços digitais e programas de literacia alimentar, promovendo o consumo consciente e a adesão às terapias nutricionais.
Conclusão: um compromisso transversal
A malnutrição geriátrica é um desafio coletivo que exige colaboração entre profissionais de saúde, decisores públicos e indústria alimentar. Para um país em rápido envelhecimento, garantir a nutrição adequada dos mais velhos é tanto uma prioridade clínica como uma responsabilidade industrial e social.
Como recorda Margarida Graça Santos, “envelhecer com saúde começa na nutrição - e cuidar da alimentação é cuidar da autonomia”.
Fonte: iAlimentar