Importância da manutenção da biodiversidade da videira
Portugal tem inscritas na base de dados internacional de variedades de videira (VIVC) 250 variedade autóctones, num total de 350 variedades autorizadas a fazer vinho em Portugal.
Tendo em atenção a dimensão do país, um número tão elevado de variedades é demonstrativo da importância e da antiguidade da cultura da vinha no nosso país.
Um número tão elevado de variedades permite elaborar um leque enorme de tipos de vinho, em função das caraterísticas da variedade e das combinações entre elas.
Um vinho de lote é sempre mais complexo que um vinho elementar (de uma casta), pois, embora haja variedades que, devido às sua caraterísticas, permitem obter bons vinhos elementares, a generalidade não o permite. Níveis equilibrados de acidez, açúcar, compostos fenólicos, taninos e outros compostos, são raros num única variedade. Assim, o lote, desde que estudado para obter um determinado vinho com equilíbrio, complexidade e potencial de envelhecimento, é mais indicado que o vinho elementar.
Portugal tem este potencial, é prioritário e determinante mantê-lo para manter o nosso prestígio no setor, senão estaremos a concorrer diretamente com vinhos do “novo mundo”, bons, mas sem personalidade.
Riscos de extinção de variedades de videira
Esta riqueza em biodiversidade está em risco por vários fatores:
- Material vegetativo usado na instalação das novas vinhas:
No passado, plantava-se o porta-enxerto e no ano seguinte recolhia-se noutra vinha, do próprio ou de alguém conhecido, o material vegetativo da casta ou castas que pretendíamos multiplicar. Era este material que era enxertado no porta-enxerto plantado no ano anterior.
Este material vegetativo, normalmente era constituído por várias castas que eram, assim, propagadas.
Atualmente, para instalar uma nova vinha, contratamos com um viveirista a aquisição de enxerto-prontos de uma casta, que já vem do viveiro enxertada e é plantada diretamente no terreno.
Passámos de uma plantação multivarietal para uma monovarietal, indutora de uma grande perda de biodiversidade.
- A apetência por vinhos monovarietais:
O consumidor moderno tende a valorizar o consumo de vinhos monovarietais ou com poucas castas, identificadas na rotulagem das garrafas.
- Aparecimento de variedades resistentes às doenças, resultado de melhoramento sexuado:
Devido a preocupações ambientais, há necessidade de reduzir ao máximo a aplicação de pesticidas, nomeadamente fungicidas anti-míldio e anti-oídio, as doenças mais frequentes na vinha.
Esta necessidade levou à criação e plantação de castas resistentes a estas doenças criptogâmicas.
Estas castas são novas e podem contribuir para o abandono das castas tradicionais, geralmente bastante sensíveis a estas doenças e mais onerosas no seu combate.
Medidas de mitigação e recuperação varietal
Não há um modo ótimo de evitar a redução do património genético da videira.
Contudo, há ações Fonte: Agroportalque podem minorar ou inverter a tendência acima expressa:
- Assumir que há castas minoritárias, que atualmente não são plantadas, mas que, após um estudo aprofundado, podem ter mais-valias que contribuam para a sua plantação e consumo.
- Haver coleções ampelográficas que permitam preservar a biodiversidade da videira, incluindo preservar castas em desuso, evitando o seu desaparecimento.
- Efetuar estudos agronómicos e enológicos em castas minoritárias, de modo a encontrar e valorizar caraterísticas específicas que contribuam para a sua valorização
Fonte: Agroportal