Alimentos grátis no último dia da data de validade. Assim se resume a iniciativa “Free on Last Day of Life”, lançada recentemente pela cadeia britânica Iceland Foods, com o objetivo de reduzir o desperdício alimentar.
Especificamente, este projeto oferece aos e-shoppers produtos gratuitos quando atingiram o último dia da sua vida útil e não há mais stocks disponíveis. Assim, ao fazer uma encomenda online, se o único produto disponível cumprir a data de validade desse dia, será digitalizado e rotulado. Posteriormente, será colocado com o resto da encomenda e o comprador saberá da existência desse artigo gratuito antes da entrega. Toda a secção de pastelaria e padaria – fresca e refrigerada – está incluída.
1,3 milhões de produtos gratuitos
A Iceland Foods lançou, no verão passado, um teste piloto desta iniciativa em 40 estabelecimentos, que resultou na oferta de mais de 17 mil bens alimentares, equivalentes a um reembolso médio por comprador de 1,58 libras (1,87 euros) por encomenda. A cadeia de retalho diz que o teste foi um sucesso e que a iniciativa já foi implementada em mil lojas.
A cadeia espera oferecer aos clientes mais de 1,3 milhões de artigos gratuitos, ao longo do ano. “A redução do desperdício alimentar é uma grande prioridade para nós. Sabemos que o prazo de validade desempenha um papel importante na criação de alimentos excedentários, por isso, temos de encontrar uma forma inovadora de combater isso dentro das nossas lojas e no comércio online”, explica Richard Walker, CEO da Iceland Foods. “O programa ‘Free on Last Day of Life’ não só ajuda a reduzir o desperdício alimentar, como também ajuda os nossos clientes. Sabemos que o custo é fundamental para muitos dos nossos clientes e esta nova iniciativa permite-nos oferecer-lhes a oportunidade de reduzir os seus talões de compras semanais e ajudar a reduzir o desperdício alimentar“.
Fonte: Grande Consumo
A gastronomia italiana não sai da “top list” dos portugueses, mas é também uma tendência intemporal internacionalmente. De acordo com um estudo de 2015 da Travel Trends, a comida italiana é a favorita da Europa (83%) e também o prato número um para quase metade dos portugueses (44%).
Em Portugal, a bolonhesa é uma das opções mais comuns em menus de criança e pratos como a lasanha são cada vez mais frequentes em jantares de amigos nas suas inúmeras variantes, algumas muito locais, como a lasanha de bacalhau.
Por ocasião do Dia Mundial das Massas, comemorado esta segunda-feira, dia 25 de outubro, a Takeaway.com revelou alguns dados sobre o consumo dos portugueses deste popular prato. Segundo a marca, os pedidos de massas cresceram 94% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo que as opções preferidas dos portugueses estão os clássicos, como a bolonhesa, a carbonara e massa com gambas.
Restaurantes
Em relação a restaurantes onde comer “pasta”, os dez preferidos dos portugueses, sem nenhuma ordem em particular, são La Tagliatella, Restaurante PastaCafé Snackbox (Bragança), Portofino (Lisboa), Il Giardinetto (Lisboa), La BreZZa (Santa Eulália), Casa Mia (Vila Nova de Gaia), Lapamaki (Porto),Benini Sapori di Genova (Oeiras), Mr. Lu (Lisboa) e Li-Jin (Porto).
Fonte: Grande Consumo
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) vai intensificar a fiscalização nos olivais do Alentejo na campanha olivícola 2021-2022, para evitar apanha mecânica noturna de azeitona, que provoca morte de aves, foi hoje anunciado.
Em comunicado, o ICNF informa que a sua Direção Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo vai “intensificar as ações de fiscalização ao longo da campanha” na região, “no sentido de assegurar que não ocorre qualquer prática que possa promover a mortalidade de aves, designadamente a apanha noturna de azeitona”, ou seja, “no intervalo de tempo entre o ocaso e o nascer do sol”.
A fiscalização, que já decorreu na campanha de 2020-2021, vai ser reforçada na atual, de 2021-2022, “na tentativa de sensibilizar os olivicultores” para não praticarem a apanha mecânica noturna de azeitona, explicou hoje à agência Lusa a diretora Regional de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo, Olga Martins.
A fiscalização realiza-se na perspetiva de sensibilizar e não de penalizar os olivicultores, “nem de levantar autos” de contraordenação, e “por isso é que o ICNF faz as comunicações prévias”, indicou.
“Queremos mesmo é sensibilizar os olivicultores para esta questão e recordá-los que a apanha noturna [de azeitona] provoca a mortalidade das aves”, que é o que o ICNF pretende “evitar”, frisou.
Segundo a responsável, na campanha olivícola de 2020-2021 “só foi levantado um auto” de contraordenação por apanha mecânica noturna de azeitona, “logo no início” da fiscalização.
No âmbito das ações de fiscalização já efetuadas desde o início da atual campanha, que arrancou em meados deste mês, “ainda não foi detetada qualquer infração”, adiantou, frisando que os olivicultores estão “muito cooperantes”.
“É o que queremos, trabalhar em conjunto e assegurar que estamos todos a caminhar no mesmo sentido”, disse.
O ICNF alerta que a prática da apanha mecânica noturna em olival é alvo de ação sancionatória e lembra que a perturbação e a mortalidade de aves constituem uma infração contraordenacional e penal nos termos da legislação em vigor.
Segundo o ICNF, os resultados de um estudo coordenado pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) confirmam que a colheita mecânica noturna de azeitona nos olivais superintensivos “provoca, de forma significativa, a mortalidade de aves”.
Os resultados do estudo, datado de março de 2020, também confirmam que as medidas de mitigação implementadas e testadas, nomeadamente os vários processos de espantamento de aves, “revelaram-se ineficazes”.
Trata-se do estudo técnico para a avaliação de impacto na avifauna resultante da colheita mecânica noturna, que foi coordenado pelo INIAV em colaboração com o ICNF e a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo.
O estudo contou com o envolvimento dos olivicultores e foi realizado em 47 parcelas de olival em sebe nos quatro distritos do Alentejo.
Fonte: Agroportal
A produção de castanha pode ter uma quebra até aos 90% em alguns soutos na região de Carrazedo Montenegro, no concelho de Valpaços, embora duas associações locais estejam em desacordo sobre a origem do problema que causa impacto económico.
Na zona da Serra da Padrela, no distrito de Vila Real, onde se situa a maior mancha de castanha judia da Europa, este fruto resulta na principal fonte de rendimento para muitas famílias, que este ano esperam quebras grandes na produção.
Para Lino Sampaio, produtor e responsável pela associação Agrifuturo, há “alguns fungos instalados” na região que necessitam de um “tratamento preventivo”.
“Devia ter sido feito. Também não adianta eu fazer esse tratamento e depois ter 20 ou 30 produtores que não fazem. Se não for travado rapidamente por todos, continua a ter condições para existir. Neste momento conseguimos ver quem fez tratamento e não fez”, destacou.
Segundo o produtor, que falava hoje aos jornalistas à margem da apresentação da Feira da Castanha, que se realiza entre 05 e 07 de novembro, em Carrazedo de Montenegro, em algumas áreas o prejuízo na produção pode atingir os 70% ou 80% ou “ainda mais”, mas nas zonas onde foi feito o tratamento a produção é a habitual.
“Eu sou um dos exemplos e vou ter a mesma produção, mas não é com muito agrado que digo isto. Começo a questionar qual é o trabalho e porque é que estas associações cobram assistência técnica aos agricultores e depois não fazem nada, isto dói-me profundamente. Era muito fácil, não devia ser questão e íamos ter um ano de super colheita”, acrescentou.
Os fungos atingem a folha do castanheiro, que fica de cor acastanhada e rebordo amarelo, originando a sua queda antecipada, e atacam também o pedúnculo do ouriço, provocando a sua queda precoce e consequentemente a quebra de produção.
A Agrifuturo aconselhou aos produtores, entre o final de julho e início de agosto, um tratamento preventivo à base de cobre.
Visão diferente tem Filipe Pereira, da Associação Regional de Agricultura das Terras de Montenegro (ARATM), que explicou aos jornalistas que há dados das estações meteorológicas mais próximas que indicam temperaturas negativas entre 13 e 20 de setembro.
“São dados inequívocos. O castanheiro é uma árvore rústica, mas não está habituada, antes da queda de fruto, a sofrer temperaturas tão baixas. Este ano foi completamente diferente dos outros, houve gelo nas partes mais altas e fez com que nestas zonas mais altas a diminuição da produção se tenha verificado”, referiu.
Filipe Pereira frisou também que este ano “a castanha vai ser de boa qualidade mas os calibres serão relativamente mais baixos do que nos anos anteriores”.
E acrescentou que para quem fez o tratamento o “aspeto visual da planta ficou protegido mas a castanha não existe”.
“O pessoal que tratou na zona que foi flagelada [com o frio] tem uma melhoria, em relação ao pessoal que não tratou, quase inexistente. Tratar ou não tratar, onde se registou frio, não veio adiantar nada”, atirou.
O responsável da ARATM prevê quebras nas zonas fustigadas entre 70% e 80% e que pode chegar aos 90% da produção.
“Nas zonas mais baixas há uma produção normal, mas menor do que em outros anos, porque não houve só estes problemas de frio, mas também na polinização, o que levou a que a maior parte dos ouriços não tenham conseguido gerar castanha no seu interior”, concluiu.
A vereadora da Câmara de Valpaços Teresa Pavão, presente na conferência de imprensa, destacou que as eventuais compensações aos produtores de castanha dependem da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN).
“A DRAPN está sempre em sintonia com os produtores de castanha e agricultores e faz a ponte com as associações locais, desloca-se ao local, avalia o estado dos soutos e terá uma palavra final face à compensação”, sublinhou.
Na localidade de Serapicos, o casal Jaime e Sílvia Lopes, explicaram à Lusa que a produção dos seus soutos este ano teve uma grande quebra porque os ouriços “não chegaram a criar” e “as castanhas são muito pequenas”.
“Nunca houve um ano assim. Não sabemos bem se é por doença, se foi o nevoeiro ou o gelo, mas já tivemos anos com dois mil quilos e este ano não sei se chegamos aos 400 quilos”, realçaram.
Já em Argemil, ainda no concelho de Valpaços, Maria Pinto apontou que a sua produção será de um terço face ao que é habitual.
“A folha está amarela, parece que ardeu. Os soutos estão secos. Pensámos em trocar para outro fruto mas a castanha é o ouro daqui”, frisou.
Fonte: Agroportal
Vivem-se dias de alto risco neste final de 2021. O petróleo disparou, a eletricidade bate recordes e as notícias de subida do preço de vários produtos sucedem-se. Os sinais em Portugal já são visíveis: no abastecimento de cereais, nos alimentos e na indústria. A ‘escassez’ pode estar ali, ao virar da esquina
Sector alerta para aumento das dificuldades de fornecimento internacionais. Em caso limite, Portugal só tem stock para 15 dias. Escassez faz preço do bacalhau disparar 15%, multiplica custo das matérias-primas e ameaça prendas de Natal
A partir de janeiro “ficamos totalmente expostos ao que os outros países nos quiserem vender” para nos alimentarmos em termos de cereais. “Se houver um bloqueio ou apenas se um navio não puder atracar ou não conseguir chegar a tempo aos portos portugueses, só teremos cereais para pouco mais de 15 dias.”
É desta forma que Jorge Neves, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (AMPROMIS), descreve o estado a que chegou o sistema produtivo nacional. Fica assim exposta a fragilidade de um sector que luta agora em várias frentes para garantir comida na mesa dos portugueses: a extrema dependência dos transportes internacionais, cujos preços dispararam para valores historicamente elevados nos últimos meses [e Portugal importa 75% do milho de que precisa e mais de 90% do trigo para pão e massas]; a vulnerabilidade geopolítica dos países fornecedores [economias instáveis como a Rússia, a Ucrânia, a Argentina ou o Brasil, que não hesitarão um segundo em fechar a torneira das exportações para atender a necessidades internas], e ainda a escalada internacional nos preços da energia, que está a tornar cada vez mais complicado não apenas os sistemas de produção, mas o acesso às matérias-primas em geral.
À beira da tempestade “mais que perfeita”
Ou seja, e em suma, estamos “perante uma tempestade mais que perfeita para, de um dia para o outro, podermos ter um problema grave de segurança de abastecimento de alimentos básicos a Portugal”, sublinha aquele responsável.
E se a situação é crítica no abastecimento de milho (cuja produção deste ano ainda está no terreno), “no trigo para pão e para massas e em todos os restantes cereais ainda é mais preocupante”, assegura José Palha, presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC).
Este dirigente associativo nota que em toda a União Europeia só Malta está em pior posição que Portugal, mas a situação ainda vai ficar mais complicada porque na campanha deste ano a produção caiu em relação ao ano anterior. Como se todo este cenário de variáveis internacionais críticas não chegasse, a produção nacional de cereais ainda se debate com outro problema.
Em cada ano perde cada vez mais terreno para outras culturas muito mais rentáveis. Tudo começou com o olival — há já cerca de 15 anos — e agora está a ceder terra ao amendoal e, mais recentemente, à plantação de abacateiros.
Fonte: Agroportal
Fundada em 1998, em Viena de Áustria, nesta orquestra os músicos são tão importantes como os designers, cuja função passa por desenhar e criar os instrumentos através de cenouras, cebolas, pimentos, couves, alho-francês, ou seja, todo o tipo de vegetais.
Segundo a BBC, na manhã de cada atuação o grupo visita os mercados locais para comprar os vegetais que vão transformar em instrumentos. Depois de descascados e cortados, duram no máximo seis horas. Tudo o que não usam é transformado em sopa e servido ao público no fim da apresentação.
Ao longo dos anos a “Orquestra Vegetal de Viena” já criou mais de 150 instrumentos e o reportório do grupo conta uma série de géneros musicais, desde música clássica até eletrónica. “Uma das coisas mais fascinante da digressão é aprender como os alimentos são diferentes por todo o mundo. (…) Muitas pessoas pensam que somos uma espécie de cabaré ou que fazemos apenas uma apresentação engraçada. Mas normalmente ficam surpreendidas quando descobrem que há muito potencial sonoro em legumes e verduras e que queremos fazer música realmente interessante com eles.”
O que não é aproveitado para fazer os instrumentos, transforma se numa saborosa sopa servida ao público depois do espetáculo.
Fonte: Geensavers
O óleo de coco é, desde há algum tempo, uma das principais escolhas no que diz respeito a cuidados pessoais, assim como é bastante utilizado em pratos saudáveis, agora um novo estudo veio revelar os impactos negativos deste produto.
Uma equipa de investigadores queria dar mais informações sobre a colheita do coco aos consumidores, mas mesmo estes investigadores ficaram surpreendidos com os resultados obtidos.
O autor principal do estudo, Erik Meijaard, trabalhou na conservação tropical durante quase três décadas, estando muito habituado a estudos sobre o óleo de palma, um produto amplamente reconhecido como nocivo para habitats e animais, assim como a falta de informação sobre outras plantas semelhantes.
“São ambas plantas tropicais que ocupam grandes áreas que antes seriam cobertas por floresta natural”, afirmou. “Por que um acaba por ser o mau e o outro maravilhoso?”
Outras espécies atualmente ameaçadas pela produção de coco são o társio de Sangihe, um pequeno primata nativo da ilha Sangihe na Indonésia, e o cervo-rato Balabac, que só pode ser encontrado em três ilhas nas Filipinas.
Segundo o estudo, a produção de óleo de coco representa um perigo para 20 espécies ameaçadas de extinção por milhão de litros de óleo produzido, medida-padrão utilizada para estabelecer o nível de destruição causado pela produção.
Comparativamente, o óleo de palma impacta 3,8 espécies por milhão de litros e o óleo de soja impacta 1,3 espécies por milhão de litros.
Outro dado interessante do estudo mostra que as plantações de coco cobrem significativamente menos espaço de terra do que outras culturas de óleo. Por exemplo, em comparação com os 30,4 milhões de acres estimados para os coqueiros, os dendezeiros cobrem 46,7 milhões de acres. O impacto geral é maior, no entanto, com base na Lista Vermelha da IUCN.
O estudo relata que as plantações de coco afetam 66 espécies da lista, incluindo 29 vertebrados, sete artrópodes, dois moluscos e 28 plantas.
Embora esta revelação sobre o óleo de coco possa ser chocante, tem principalmente a intenção de ser informativa para os consumidores. “Queremos ter muito cuidado para não dizer que o coco é, na verdade, um problema maior do que o óleo de palma”, disse Meijaard.
O estudo é mais abrangente do que a análise ao óleo de coco. Foi também analisado o impacto das máquinas que coletam azeite das oliveiras no ecossistema das aves, assim como os efeitos da produção de petróleo em produtos normalmente considerados saudáveis e de baixo impacto ambiental.
“O que estamos a tentar dizer, e tentar fazer o público entender, é que todas as commodities agrícolas têm os seus próprios problemas”, explicou Meijaard.
O co-autor Jesse F. Abrams acrescentou: “Ao tomar decisões sobre o que compramos, precisamos estar cientes dos nossos preconceitos culturais e examinar o problema de uma lente que não se baseia apenas nas perspectivas ocidentais para evitar padrões duplos perigosos.”
No geral, o objetivo do estudo não era direcionar a produção de óleo de coco, mas alertar para a necessidade de mais informações sobre todas as decisões de compra do consumidor. “No momento, simplesmente não chegamos lá ainda”, disse Meijaard. “Podemos escolher qualquer safra, e há enormes lacunas na nossa compreensão e conhecimento sobre o seu impacto, por isso é um apelo para que os cientistas, políticos e o público exijam melhores informações sobre as commodities.”
Douglas Sheil, coautor do estudo, acrescentou ainda “Os consumidores precisam perceber que todas as nossas commodities agrícolas, e não apenas as safras tropicais, têm impactos ambientais negativos. Precisamos fornecer aos consumidores informações confiáveis para orientar as suas escolhas.”
Fonte: Greensavers
Abater animais em matadouro sem a presença de um médico veterinário do Estado é crime contra a saúde pública. Em Portugal, o défice crónico de inspetores sanitários “condiciona a atividade” e gera problemas de “concorrência” entre operadores económicos da UE. O Governo diz que vai “reforçar”.
No dia 12 de Outubro, o matadouro Ribasabores, em Tomar, que opera sobretudo com suínos e borregos, “não pôde abater” animais durante “todo o dia”. Motivo? Falta de inspetores sanitários, a quem compete inspecionar o abate, garantindo que são cumpridas, entre outras, as regras de bem-estar animal, de higiene ao longo da cadeia de abate, de rastreabilidade dos animais e das carcaças resultantes, de verificação dos planos de segurança e manutenção, de higiene das infra-estruturas, dos equipamentos, do pessoal, do controlo da água potável e da temperatura nas câmaras frigoríficas e nas salas de desmancha. Só se tudo isto estiver conforme é que o processo termina com a aposição, pelo inspetor sanitário, de um carimbo oficial — o número de controlo veterinário —, atribuído pela Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), que garante aos agentes económicos e, no final, ao consumidor que a carne foi devidamente inspecionada.
O episódio em Tomar foi relatado ao PÚBLICO pela diretora executiva da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC), que teve “autorização” do administrador da empresa para revelar o caso. Naquele dia, conta Graça Mariano, “70 trabalhadores ficaram parados”, sem que as autoridades oficiais “resolvessem” o problema, pese embora a APIC tenha enviado “um email à diretora-geral [de Alimentação e Veterinária, Susana Pombo], e à ministra da Agricultura [Maria do Céu Antunes], mas sem nenhuma resposta”. A APIC “telefonou à diretora-geral [da DGAV], tendo esta referido que nada poderia fazer”.
Este não é caso único. Graça Mariano relata outra situação em que “não se concluiu o abate dos animais detidos na abegoaria quando faltavam 30 minutos de laboração, porque os inspetores se recusaram [a acompanhar o processo], alegando terem já ultrapassado o tempo regular”.
Questionado pelo PÚBLICO, o Ministério da Agricultura garante que os médicos investidos das atribuições de Autoridade Veterinária Nacional “trabalham aos sábados, domingos e feriados, caso haja necessidade”. Aqui, no entanto, não laboraram além da hora “regular”. A diretora-geral da APIC lamenta que, fruto da suspensão do abate, “o operador económico não tenha podido entregar a carne requerida pelas empresas de distribuição, as quais têm contratos que determinam avultadas indemnizações por não cumprirem a entrega das quantidades de alimentos acordada”.
“A carne é, de todos os alimentos, o mais controlado”, garante Graça Mariano, uma vez que “os animais só são abatidos na presença de um representante do Estado”. Explica, aliás, que os industriais do sector pagam ao Estado por esse serviço público de controlo veterinário, que é obrigatório (ao abrigo do Decreto-Lei n.º 178/2008), “um valor acima de 35.000 euros por mês, muito acima do real custo com os vencimentos dos inspetores sanitários colocados nos matadouros de ungulados (bovinos, ovinos, caprinos, porcos, cavalos)”. Nos matadouros de aves, “o valor da taxa é inferior e não cobre o custo da inspeção”.
A instabilidade climática é uma das causas da baixa produção de mel dos últimos anos, no Centro de Portugal, podendo os novos projetos evitar o futuro amargo traçado para esta atividade por alguns apicultores.
Ao clima irregular, que não atinge por igual todos os municípios da região, juntam-se a proliferação da vespa velutina, predadora de abelhas e outros insetos, os custos de produção e o impacto dos incêndios no coberto vegetal, entre outros fatores.
“Se o Estado não tomar medidas de apoio direto à produção, por colmeia, a apicultura entra em declínio”, alerta a diretora executiva da Lousãmel – Cooperativa Agrícola dos Apicultores da Lousã e Concelhos Limítrofes, Ana Paula Sançana.
Devido aos ataques da também designada vespa asiática, que vieram somar-se à infestação das colmeias pela varroa, um ácaro que dizima as colónias de abelhas, “são agora muitos os encargos”, afirma à agência Lusa.
“O maneio precisa cada vez de mais cuidados, para não perdermos os efetivos”, adianta Ana Paula Sançana, ao enfatizar que a velutina “traz muitos problemas”.
Idêntica opinião tem Tiago Valdeira João, que possui 300 colmeias na Sertã, distrito de Castelo Branco.
“A apicultura é dos negócios mais instáveis que existem. Muitos fatores podem influenciar a abelha e o próprio clima não é certo”, refere.
Tiago João, de 28 anos, iniciou em 2018 um projeto, financiado pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), que deveria terminar em 2023, mas que foi prolongado até 2024, na sequência da pandemia da covid-19.
O apicultor reconhece que “as dificuldades surgem sempre”, mas recusa uma visão pessimista do seu trabalho.
“Este ano, já tive alguma quantidade de mel”, após três anos a apostar no “desdobramento dos enxames” tendo em vista cumprir a meta das 300 colmeias, que estão distribuídas por nove apiários, entre Sertã e Proença-a-Nova.
Na região demarcada do mel com denominação de origem protegida (DOP) Serra da Lousã, gerida pela Lousãmel, no distrito de Coimbra, as manchas de urze, cuja flor determina as características deste produto natural, têm diminuído por causa dos fogos e da propagação das espécies invasoras.
“A qualidade do mel DOP não está em causa. O problema é a quantidade”, assegura Ana Paula Sançana, segundo a qual “há apicultores desmotivados com o aumento dos encargos fixos e que acabam por sair do processo de certificação”.
O presidente da Lousãmel, António Carvalho, confirma o atual panorama do mel DOP Serra da Lousã.
“Desde os incêndios de 2017, tem sido uma desgraça, com quantidades muito pequenas para a procura que temos. Este ano foi ainda pior do que 2020”, lamenta.
Para António Carvalho, tal tendência “tem a ver igualmente com as alterações climáticas e com a grande concentração de colmeias” na Serra da Lousã.
O dirigente, todavia, deposita “esperança nalguns jovens apicultores que têm aparecido e com mais entusiasmo”.
“Não temos tido anos favoráveis. Antes, o clima era muito mais regular”, sublinha à Lusa, por sua vez, Luís Estêvão, presidente da Pampimel – Cooperativa de Apicultores e Produtores de Medronho de Pampilhosa da Serra.
As áreas de urze “têm vindo a diminuir” neste concelho montanhoso do interior, onde predominam os apiários familiares.
“Os grandes produtores vão adaptar-se. Os pequenos pagam para produzir mel, não fazem contas, enquanto os médios terão muitas dificuldades em sobreviver”, prevê Luís Estêvão.
No concelho da Figueira da Foz, António Graça, de 70 anos, que trabalhava na construção civil, dedica-se à apicultura a tempo inteiro desde a última década.
“Mas estou a desistir um bocado disto e já abandonei cinco colmeais”, revela à Lusa.
De ano para ano, António Graça tem registado “um decréscimo substancial” da colheita de mel e associa as maiores perdas à ação nefasta da vespa asiática.
Em Pinhel, Pedro Fernandes, de 36 anos, prossegue uma atividade familiar que já vinha do avô. “Não adianta nada ser pessimista quanto ao futuro”, defende.
A empresa, que também se dedica ao turismo rural, possui mil colmeias nos concelhos de Pinhel e Trancoso, distrito da Guarda, e Penedono, distrito de Viseu.
A velutina interfere “muito pouco” nas quantidades de mel obtidas na zona, diz.
“Esta atividade não é linear”, aceita, para admitir que, na Beira Alta, o principal inimigo dos apiários “tem sido a instabilidade climática”.
Fonte: Agroportal
Com uma oferta cada vez mais vasta de alimentos embalados e prontos a comer e os estilos de vida cada vez mais acelerados, os processados enchem as prateleiras dos supermercados e das despensas das casas portuguesas, ganhando um espaço de destaque no regime alimentar diário. O preço destes produtos alimentares continua a ser um dos fatores que mais pesa no momento da compra, mas quando o objetivo é escolher o que é mais saudável é na leitura do rótulo que está a solução. Porém, no caso português, é aqui que pode estar o problema.
Uma vez que 40% dos portugueses têm dificuldade em interpretar a informação presente num rótulo alimentar, a adoção de um sistema de rotulagem simplificado tem sido a aposta de algumas marcas no mercado português e é vista pelos especialistas como caminho a seguir na hora de facilitar a perceção sobre o quão bom ou mau pode ser um alimento embalado. Embora a análise exclusiva do esquema colorido seja superficial, o Nutri-Score é o sistema simplificado de rotulagem que mais tem captado as atenções de algumas empresas alimentares e a DECO quer que seja implementado de forma uniformizada em Portugal, estando já a reunir com os partidos com assento parlamentar para dar seguimento ao assunto, seguindo os passos de alguns países europeus, que já implementaram este sistema.
Quanto a esta iniciativa da DECO, Maria João Gregório, presidente do Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS) da Direção-Geral da Saúde (DGS) diz à VISÃO “que quanto mais alargada for a discussão na sociedade civil sobre este tema tanto melhor”. Até porque, continua numa resposta enviada por escrito, “neste momento, mais importante do que a adoção do Nutri-Score em Portugal, é a adoção de um modelo único a nível europeu, consensualizado por todos os países europeus. Sabemos que a União Europeia tomará uma decisão sobre este assunto em breve. E Portugal, através dos Ministérios da Agricultura, Negócios Estrangeiros, Economia e Saúde tem naturalmente participado nesta discussão”.
O Nutri-Score é, para já, o único modelo simplificado a ser mencionado por cá, mas há prós e contras no Nutri-Score que têm de ser pesados e o certo é que a discussão sobre este e outros modelos de rotulagem simplificados parece estar a passar despercebida, mesmo após ter sido enviada uma carta aberta ao Parlamento por parte da organização de defesa do consumidor. “Haver diálogo e procura ativa pela melhoria do sistema de rotulagem é um debate que não está a ser tido e essa inércia é capaz de ser algo que irá causar algum arrependimento no futuro, certamente”, lamenta Helena Trigueiro, nutricionista e doutoranda.
O que é o Nutri-Score?
O Nutri-Score é um sistema simplificado de rotulagem nutricional que, com o recurso a um algoritmo, classifica os alimentos por cores (do verde ao vermelho) e letras (do A ao E) numa escala que ajuda o consumidor a avaliar um alimento – os mais saudáveis são rotulados a verde com a letra A e os menos saudáveis a vermelho com a letra E. Este modelo foi desenvolvido pela Santé Publique France, a agência nacional de saúde pública francesa, e encontra-se já em vigor em sete países europeus: Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Países Baixos e Suíça.
Segundo a DECO, que se juntou à Auchan, à Danone e à Nestlé na criação da página de Facebook Mais Nutri-Score, o algoritmo do Nutri-Score tem por base um sistema que atribui pontos com base na composição nutricional do produto (por 100g ou 100ml), sendo que se subtraem os pontos positivos aos negativos, cálculo esse que, no final, irá resultar na cor e na letra a apresentar em destaque. Nos pontos positivos incluem-se fatores como “proporção de fruta, legumes, leguminosas, frutos secos, azeite e óleo de colza e noz, tal como o teor em fibras e proteínas” na composição do alimento, lê-se no site da DECO, que dá conta também dos elementos considerados como pontos negativos, como é o caso da “energia (calorias), teor em gordura saturada, açúcares e sal”.
Por cá, marcas como a Pescanova e a Iglo também já usam voluntariamente o Nutri-Score, modelo também adotado nos produtos de marca própria por supermercados como Aldi, E.Leclerc e Pingo Doce, por exemplo. O Continente, por seu turno, usa o modelo de semáforo ao estilo britânico nos alimentos embalados de marca própria, um modelo que foi implementado há 13 anos e que avalia quatro nutrientes: “lípidos (gorduras), ácidos gordos saturados (gorduras saturadas), açúcares e sal”, sendo que cada um deles é classificado com uma cor (verde, amarelo ou vermelho) de acordo com a quantidade presente no alimento, explica por escrito Mayumi Delgado, responsável da equipa de nutrição do Continente. “Existe ainda a cor cinza, atribuída ao valor energético (calorias), que não tem qualquer significado nutricional”, explica. Além das cores, que acabam por destacar os nutrientes de forma direta os nutrientes com impacto negativo na saúde, o semáforo apresenta ainda “a percentagem de dose de referência, tendo em conta a dose de alimento consumida (porção)”, informação visual que acaba por ser de perceção mais direta – uma pessoa hipertensa, por exemplo, percebe logo que determinado alimento com um vermelho no sal é de evitar.
Os prós do Nutri-Score (que podem trazer água no bico)
A complexidade do atual sistema de rotulagem é um dos fatores para a incompreensão quase generalizada a nível alimentar por parte dos portugueses, uma vez que este modelo é bastante descritivos no que diz respeito à quantidades de nutrientes e “essa informação obriga a alguns cálculos” e as pessoas têm de adaptar “as percentagens ao que é recomendado ao longo do dia”, explica Pedro Graça, diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, salientando que “este duplo cálculo nesta rotulagem, que é obrigatória em todos os alimentos embalados, torna-a difícil de compreender e é difícil de transformar em ações no dia-a-dia no momento da compra” e, por isso, “termos um sistema mais simplificado é melhor do que o atual sistema”, até porque, de acordo com Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, a não compreensão nutricional “aumenta para 60% quando estamos a falar de uma população com um nível de escolaridade inferior”. No entanto, Maria João Gregório não deixa de notar que todos os modelos simplificados “apresentam limitações, inerentes a qualquer processo de ‘simplificação’”.
O estudo Nutri-Score: Uma Ferramenta de Saúde Pública para Melhorar os Hábitos Alimentares da População Portuguesa mostrou que se trata de uma ferramenta que é facilmente reconhecida e interpretada “independentemente do estrato socioeconómico e demográfico, especialmente em comparação com o sistema de semáforo”, o que poderá ajudar a combater a falta de literacia alimentar que é apontada pelos especialistas como uma das causas para as más escolhas alimentares (não só em qualidade, como também em quantidade), que, por seu turno, podem desencadear o aparecimento de determinadas patologias, como a obesidade, diabetes tipo 2 e hipertensão. Ainda no que diz respeito ao potencial efeito protetor contra doenças relacionadas com hábitos alimentares, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou, no início de setembro, o mais recente relatório da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), que sugere que a adoção do Nutri-Score na Europa pode ajudar os consumidores a reduzir o risco de doenças não transmissíveis, como o cancro.
A uniformização deste modelo por vários países europeus poderá ser uma forma de compreender a classificação de um produto embalado mesmo quando não se entende a língua local, o que poderá promover melhores hábitos além fronteiras, sendo este um outro aspeto positivo apontado pelos especialistas. “O Nutri-Score distingue-se dos demais sistemas disponíveis no mercado por avaliar facilmente os alimentos de uma forma global, permitindo uma fácil compreensão da sua qualidade nutricional”, explica Joana Sousa, nutricionista e professora na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Entre as vantagens do Nutri-Score está ainda a facilidade de comparação entre dois produtos da mesma categoria, porém, não deve ser visto como “um substituto da informação nutricional, que deve manter-se”, destaca Joana Sousa. O facto de o alimento rotulado com o Nutri-Score não deixar de ser um alimento processado e embora a demonização deste tipo de produtos não seja benéfica, o certo é que o seu consumo regular e até exagerado pode trazer consequências para a saúde, sobretudo se for feito em detrimento de outros alimentos mais saudáveis ou de um regime alimentar variado. Um estudo levado a cabo por investigadores da Eslovénia aponta as interpretações erradas como um dos principais desafios do Nutri-Score, que apesar de ser eficaz na rotulagem generalizada, carece de discussão para que seja feita uma correta campanha de informação junto da população – preocupação que ganha outra escala quando tudo aponta para que seja um modelo adotado de forma generalizada pelos estados-membros da União Europeia, com níveis de literacia e hábitos de consumo distintos.
“Estes sistemas de rotulagem nutricional como o Nutri-Score, podem-nos ajudar a escolher a melhor opção dentro dos alimentos processados, já que a rotulagem nutricional se aplica aos alimentos pré-embalados. No entanto, a regra geral para a alimentação saudável, seguindo os princípios da Dieta Mediterrânica, continua a ser escolher preferencialmente produtos fresco, da época, minimamente processados e dar preferências aos produtos de origem vegetal”, afirma Maria João Gregório.
A comparação entre dois alimentos semelhantes que o esquema do Nutri-Score proporciona de forma direta pode também ser um gatilho para a indústria alimentar alterar as receitas dos seus produtos de modo a fornecer alimentos com melhores classificações. À VISÃO, os especialistas entrevistados dizem este é um dos principais pontos positivos do Nutri-Score e aquele que, a longo prazo, poderá aumentar o leque de alimentos ‘bons’ à disposição. “Há um duplo benefício: se por um lado estamos a auxiliar o consumidor no momento da compra, por outro lado não temos dúvidas nenhumas que vai encorajar a indústria alimentar a melhorar a qualidade nutricional dos seus produtos”, esclarece a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, que destaca a importância da adoção em Portugal de “um sistema de rotulagem que seja simples e único” e de fácil compreensão por parte dos consumidores, podendo ser o Nutri-Score, outro existente ou até um criado de raíz. Contudo, esta otimização das receitas dos alimentos embalados poderá não ser tão inocente quanto isso, como alerta Pedro Graça mais à frente neste texto – há o risco de hiperprocessamento e a facilidade de contornar ingredientes que nada acrescentam à alimentação saudável.
De acordo com Dulce Ricardo, coordenadora da área alimentar da DECO, o Nutri-Score destaca-se dos demais pela “robustez científica” e por não ser um modelo fixo, o que permite uma adaptação das classificações dadas. “Está previsto para o final do ano, início do próximo uma hipotética reformulação da fórmula, em que está de facto a estudar o comité científico independente a hipótese de começar também a contemplar aditivos, nomeadamente os edulcorantes. A própria fórmula poderá vir a ser alterada com base em critérios científicos, não é uma coisa estanque”, revela. Esta eventual mudança poderá, por exemplo, fazer com que alimentos e bebidas ‘light’ ou rotuladas como ‘sem açúcar’ que são bem classificadas por terem um baixo teor de açúcar passem a ser menos bem classificadas por conterem edulcorantes na sua formulação, o que é um ponto positivo. Um exemplo concreto de reformulação e de como o Nutri-Score não deve ser a única forma de avaliação por parte do consumidor é o azeite virgem-extra, primeiramente classificado como um D e depois como um C.
“No futuro, acredito que estes algoritmos que permitem classificar globalmente um produto alimentar poderão vir a ter em conta o grau de processamento dos alimentos. A evidência científica sobre o consumo de alimentos processados e piores outcomes de saúde é cada vez mais consistente”, diz Maria João Gregório.
Os contras do Nutri-Score
O Nutri-Score é o modelo simplificado que gera mais consenso quando comparado a outros front-of-pack nutrition labels – FOP-NL (rótulos nutricionais na frente da embalagem – FOP-NL), como o caso do semáforo nutricional (usado no Reino Unido) ou o sistema de alerta (usado no Chile), embora sejam ainda poucos os estudos concretos sobre o efeito do Nutri-Score nas escolhas e, por consequência, na saúde, uma vez que se trata de um modelo ainda recente. “Tenho a certeza que o Nutri-Score é melhor do que nada, agora, se me perguntar se é o modelo ideal, não é o modelo ideal. Ainda está longe de ser o modelo ideal e de ser o modelo perfeito à interpretação do valor nutricional”, afirma à VISÃO a nutricionista Helena Trigueiro.
Uma das primeiras falhas apontadas a este sistema simplificado de rotulagem nutricional é o facto de o algoritmo do Nutri-Score não englobar tudo o que pode estar na ‘receita’ do alimento industrializado. “O risco, a meu ver, é que se está a classificar um alimento com dezenas de nutrientes apenas baseado em três ou quatro, que são os mais importantes para a saúde da pessoa”, mas não os únicos a compor o alimento, alerta Pedro Graça.
Atualmente, o algoritmo do Nutri-Score não contabiliza aditivos, grau de processamento, pesticidas, antibióticos, alergénios, aromas, tamanho da porção e o método de preparação/confeção. E o que é que isso quer dizer? As bebidas light, por exemplo, podem ser melhor classificadas do que aquilo que seria esperado. Tal como a própria DECO escreve no seu site, “o Nutri-Score considera apenas a quantidade de açúcares e não a presença de edulcorantes”, usados comummente para fazer as vezes do açúcar em alimentos e bebidas, e, por isso, “essas bebidas podem, portanto, obter um B ou um C”, algo que poderá gerar alguma confusão por parte dos consumidores, sobretudo quando a evidência científica alerta para os riscos do consumo regular e exagerado de açúcar e quando estão em vigor medidas que limitam a sua quantidade, como é o caso do imposto sobre as bebidas açucaradas (o chamado ‘imposto Coca-Cola’), que entrou em vigor em 2017, e da redução da gramagem do açúcar presente nos pacotes de uso único, que, desde 2020, não pode ser superior a quatro gramas por unidade. Algumas bolachas, cereais de pequeno-almoço e barras de cereais estão classificados como com um B, mesmo contendo edulcorantes na sua formulação.
Para além da exclusão de alguns fatores do algoritmo, a própria fórmula usada para obter a classificação pode ‘mascarar’ alguns aspetos, algo que o consumidor apenas poderá decifrar se fizer a leitura do rótulo tradicional. E Pedro Graça dá um exemplo: “um alimento que tem um verde [na classificação] é geralmente um melhor alimento do que o que tem um vermelho, no entanto, como este score é um cálculo de várias coisas, pode haver um alimento que até tem um bocadinho de sal a mais, mas como tem todos os outros fatores todos a favor o que vai acontecer é que essa quantidade de sal é diluída em todos os outros fatores positivos e o alimento até pode ter uma classificação razoável, mas se a pessoa for hipertensa, não percebe que aquele B ou C tem a sal a mais”.
“Uma das principais falhas [do Nutri-Score], a meu ver, é a dificuldade de integrar a própria ideia de moderação. Se, por um lado, o Nutri-Score acaba por disfarçar e mascarar de alimentos saudáveis alimentos que não têm assim tanto interesse, e podemos falar dos refrigerantes, mas também podemos falar de outros alimentos que, por terem um valor calórico mais baixo acabam por passar com um A ou com um B e que não são, de todo, a opção mais interessante, por outro lado, os alimentos mais tradicionais e da própria dieta mediterrânica acabam por ser mais postos de lado e menos considerados pelo próprio Nutri-Score e isso parece-me um bocadinho incongruente”, atira Helena Trigueiro.
Pedro Graça, também membro do Conselho Científico da ASAE, reconhece o impacto positivo que o Nutri-Score pode ter na confeção de alimentos processados com melhores classificações por parte da indústria alimentar, mas alerta para o facto de este aprimoramento de classificação poder ser “um incentivo ao hiperprocessamento” dos alimentos, pois, “um produto altamente processado pode ser um A ou B e ter lá uma série de aditivos que à partida não são necessários para a nossa saúde”. Na prática, explica, “se o produtor quiser que o produto passe de vermelho para verde, tem de ir à composição desse alimento, retirar açúcar, sal e gordura para ter um B. Se for um alimento hiperprocessado, com mistura de muitas coisas consegue-se, tirando uma coisa e metendo outra, fazer algum jogo de ingredientes e passar de um D para C, por exemplo. Se meter um pouco mais de fibra e de proteína, se calhar, consegue manter a mesma quantidade de açúcar e de sal, mas o alimento em vez de ser um D é um C porque foram melhoradas algumas propriedades”.
O impacto do Nutri-Score (ou de qualquer outro sistema de cores) no consumo prevê-se positivo com as pessoas a serem capazes de fazer escolhas mais acertadas e saudáveis, como mostra este estudo realizado em março deste ano, publicado na International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, e que revela uma tendência de ‘fuga’ por parte dos consumidores perante alimentos classificados com D ou E. Porém, isso pode não ser fácil quando alimentos até agora desaconselhados passam a ser bem classificados, como é o caso de alguns cereais de pequeno-almoço. Durante décadas, os nutricionistas desaconselharam o consumo regular deste tipo de alimentos, sobretudo por parte dos mais novos, mas agora é possível encontrar no mercado cereais de pequeno-almoço classificados com um B. Para Pedro Graça, “antigamente, era mais fácil desincentivar os pais a comprar e [o rótulo] coincidia com o discurso dos nutricionistas. Mas nos cereais de pequeno almoço é possível mexer na receita. Do ponto de vista nutricional, o produto melhorou, o que é ótimo, mas compromete a comunicação” e também a compreensão, podendo levar a um consumo mais regular do que o desejado. Apesar de frisar que não é “um anti Nutri-Score, de todo”, Pedro Graça alerta para a importância das pessoas manterem o espírito crítico e procurarem sempre ler o rótulo do alimento: “se [o Nutri-Score] for mal utilizado e se for pouco controlado, pode vender gato por lebre e os consumidores têm de estar sempre atentos”. Neste artigo, é já levantado um pouco do véu dos temas que merecem ser discutidos antes de uma implementação generalizada do Nutri-Score, ou de outro modelo de rotulagem simplificado.
Maria João Graça defende que “quando estes sistemas de rotulagem atribuem uma classificação global aos alimentos, o risco é maior porque de facto podem passar a mensagem ao consumidor de que o produto é ‘saudável’, independentemente da quantidade consumida. Nós ‘especialistas’ sabemos que assim não é, mas a população em geral terá dificuldade em fazer outra interpretação que não esta”.
A propósito da aplicação do Nutri-Score nas embalagens de cereais de pequeno-almoço, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge levou a cabo um estudo em que concluiu que apesar de o Nutri-Score ter classificado como saudáveis apenas 18% dos 50 cereais de pequeno-almoço avaliados, defende que “os sistemas de rotulagem nutricional simplificada não substituem a declaração nutricional obrigatória, introduzida pelo Regulamento (EU) nº 1169/2011 de 25 de outubro do Parlamento Europeu e do Conselho”, reforçando a ideia de que o Nutri-Score é uma ferramenta de análise direta, mas não deve ser a única.
A presidente do PNAPS reforça a ideia de que o Nutri-Score é “complexo” e que “não é um assunto linear”, porém, e embora reconheça que o algoritmo do Nutri-Score “foi desenvolvido de modo a ser um sistema suficiente permissivo para promover e incentivar a reformulação dos produtos alimentares (por exemplo redução do teor de sal e de açúcar)”, o que, defende, “trará ganhos para a saúde”, esclarece que “esta permissividade do Nutri-Score para algumas categorias permite que alguns produtos alimentares fiquem excessivamente bem classificados”. E dá um exemplo: “Não me parece adequado que cereais de pequeno-almoço com cerca de 25g de açúcar por 100g possam ser classificados com uma cor verde, independentemente da quantidade de fibra que possam conter”, algo que “pode ser mesmo uma mensagem conflitante com as recomendações para uma alimentação saudável. Isto pode ser ainda mais preocupante, na medida em que a evidência científica nos mostra que uma classificação ‘verde’ num alimento tem uma maior capacidade de incentivar o seu consumo, comparativamente ao poder que um ‘vermelho’ tem em desincentivar o seu consumo. São precisamente estes riscos e benefícios que necessitam de ser ponderados para uma tomada de decisão”.
Mais do que um modelo, apostar no conhecimento
Os especialistas consultados pela VISÃO não hesitaram em afirmar que a rotulagem nutricional simplificada é mais vantajosa do que os rótulos atuais, mas frisaram que o sucesso deste tipo de sistema, incluindo o Nutri-Score que a DECO quer ver implementado em Portugal, depende sempre da literacia alimentar de cada pessoa, algo que se consegue com campanhas, sobretudo junto dos mais novos.
Para a docente Joana Sousa, não há modelos perfeitos e o Nutri-Score deve ser visto, acima de tudo, “como uma ferramenta de educação alimentar importante, mas não podemos considerar que resolveremos o problema em Portugal com a sua implementação”, ou seja, mais do que a solução para melhores escolhas alimentares, “o modelo serve de complemento e facilitador da literacia alimentar”. Diz a especialista que “antes de tudo, o consumidor terá de estar consciente e informado dos princípios de alimentação saudável e equilibrada”, uma vez que “este ou qualquer outro modelo não são ‘a’ ferramenta, por si só, capaz de garantir uma alimentação saudável e equilibrada”, devendo haver uma aposta séria não só no aumento de conhecimento por parte dos consumidores, mas também no acompanhamento deste tipo de medidas e na discussão das mesmas, algo que Pedro Graça defende que deve ser feito de forma independente, por mediadores “sem interesses” e “sem influência dos lobby da alimentação”.
“Comparado com outros modelos de rotulagem, nomeadamente o que é usado no México [rotulagem de advertência, semelhante à do Chile e também adotada no Uruguai e Peru], não sei se [o Nutri-Score] será melhor e penso que havendo a sua adoção deve haver um debate muito sério sobre como é que se poderia a nível europeu adotar este sistema de rotulagem”, diz Helena Trigueiro, que volta a lamentar a falta de discussão sobre o assunto. “Deve haver algum debate face a isso e arranjar estratégias para colmatar estas falhas e estas zonas cinzentas do Nutri-Score”. Para a também investigadora no NNEdPro Global Centre for Nutrition and Health, o Nutri-Score não deve ser uma “discussão fechada”, todos os seus aspetos devem ser avaliados, uma vez que, defende, “não podemos uma visão unicamente focada no consumidor, temos de ter a voz da academia, da ciência, das organizações que defendem o padrão alimentar mediterrânico, os representantes dos profissionais da nutrição e a visão dos produtos, dos vários intervenientes. Isso sim é urgente”.
Fonte: Visão
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