O desperdício alimentar continua a ser um dos maiores entraves à sustentabilidade dos sistemas agroalimentares. Em 2022, geraram-se na União Europeia (UE) 59 milhões de toneladas de desperdício alimentar, equivalentes a 131 kg por habitante.
O pescado, pela sua elevada perecibilidade, exibe taxas particularmente preocupantes de perdas ao longo da cadeia de valor. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que cerca de 35% do pescado capturado globalmente nunca chegue ao prato do consumidor. Para além de significar ineficiências económicas, este fenómeno representa emissões evitáveis de gases com efeito de estufa, desperdício de recursos marinhos limitados e perda de rendimentos ao longo da cadeia de valor.
Mesmo com esforços concertados, as perdas de pescado na UE mantêm-se elevadas. A plataforma EU Fusions indicava já em 2016 valores na ordem das 6–8% do volume colocado no mercado a nível retalhista. Entre 2007 e 2014, a compensação europeia para a retirada de peixe do mercado totalizou 51386T, equivalendo a 6432T/ano que não foram consumidas.
O relatório 2024 do World Economic Forum aponta para 23,8 milhões de toneladas de pescado comestível desperdiçado em 2021, cerca de 15% da produção global. O EUMOFA 2024 assinala que, embora o consumo médio europeu se situe nos 23,51kg/hab./ano, países como Portugal e Espanha, grandes consumidores, concentram também maiores volumes absolutos de desperdício. Em boa verdade, Portugal, país com o maior consumo per capita de pescado da UE (54,54 kg em 2022), pode estar perante uma oportunidade face ao desperdício: mesmo uma redução marginal nas perdas em etapas críticas – captura, primeira venda, transporte refrigerado ou retalho – podem vir a resultar em ganhos significativos de sustentabilidade e competitividade.
Quando analisamos as possíveis fases onde o pescado é desperdiçado, conseguimos perceber que algumas etapas na cadeia de valor são críticas. Desde logo, a pós-captura e primeira venda podem acarretar perdas, já que, por um lado, o manuseamento a bordo por vezes é inadequado (e.g.: ausência de gelo ou atraso na evisceração acelera a ação de enzimas e proliferação de microrganismos); por outro lado, podem ocorrer descartes de espécies sem valor comercial ou abaixo do tamanho regulamentar, apesar das restrições da Política Comum das Pescas. Já nas fases de logística, processamento/transformação e distribuição, têm sido identificadas ruturas na cadeia de frio, i.e., falhas energéticas ou má calibração de unidades frigoríficas que podem elevar a temperatura >4°C, reduzindo a vida útil em 30–50%; há também registo de eventual excesso de stocks no retalho por previsão de procura insuficientemente ajustada. (...)
Fonte: TecnoAlimentar
A Federação Nacional de Regantes de Portugal (FENAREG) alertou, durante o debate “Investimento em Regadio: o que há de novo?”, que decorreu na AGROGLOBAL, que Portugal poderá perder 5,4 mil milhões de euros em valor económico se adiar por 10 anos a expansão de 120 mil hectares de regadio prevista na Estratégia “Água que Une”.
De acordo com a FENAREG, este montante corresponde ao investimento total programado até 2030, conforme estipulado no documento. A Estratégia inclui 300 medidas, destacando-se a reabilitação de infraestruturas, a construção de novas barragens, interligações e a modernização dos sistemas de rega. No entanto, não abrange cerca de 60 medidas essenciais para o regadio, das quais 49 têm um custo superior a 477 milhões de euros.
A Federação Nacional de Regantes de Portugal sublinha ainda que a maioria destes projetos está pronta para avançar, com estudos realizados e financiados pelo PDR2020, mas ainda não tem previsão de execução e não foi incluída no documento disponibilizado para consulta.
Segundo José Núncio, Presidente da FENAREG, nas suas intervenções ao longo do debate, a estratégia “Água que Une” é essencial para garantir a segurança hídrica, a competitividade agrícola e a coesão territorial do país, defendendo que a questão central não deve ser “quanto custa fazer, mas quanto custa não fazer”.
Neste contexto, o responsável alertou para que: “cada ano de atraso representa perdas significativas para a economia e para o futuro da agricultura portuguesa, que poderão colocar em risco 5,4 mil milhões de euros, um valor semelhante ao que a Estratégia prevê de investimento até 2030 para assegurar a gestão sustentável e integrada dos recursos hídricos em Portugal, de modo a garantir a segurança hídrica e a resiliência face às alterações climáticas, como a seca e as cheias”.
O presidente da Federação deixou ainda um apelo para o reforço imediato do PEPAC, que, na área do regadio, tem apenas 150 milhões de euros alocados, dos quais 65 milhões já estão comprometidos com projetos provenientes do PDR2020. Além disso, defendeu a execução imediata das obras, com uma definição clara das fontes de financiamento.
José Núncio destacou também a necessidade de considerar a mobilização do Fundo Ambiental, combinando-o com os fundos do BEI, do BCE e parcerias privadas, adotando uma abordagem holística que assegure o total investimento necessário, uma proposta que a Federação tem defendido há vários anos.
O Presidente da FENAREG enfatizou ainda a necessidade urgente de criar uma estrutura autónoma dedicada à implementação da estratégia “Água que Une”, com um calendário definido e metas claras, a fim de evitar dispersões, atrasos e ineficácia na execução.
Para José Núncio, estamos a viver um “momento decisivo”, tanto em Portugal como na Europa e as alterações climáticas e as crises geopolíticas e militares à escala mundial tornam-no ainda mais pertinente no contexto do regadio. Isto porque “sem água não há agricultura. Por isso, investir em regadio é investir na resiliência económica, ambiental e social do país”.
“O futuro da agricultura portuguesa e a resiliência económica nacional dependem da capacidade de transformarmos a água em competitividade, emprego e segurança alimentar. Também por isso, a urgência de passarmos à execução da estratégia, até porque o futuro da PAC é incerto. Cada ano de atraso representa perdas irreparáveis para a agricultura e para a economia nacional”, enfatizou o responsável.
Fonte: Vida Rural
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), realizou, na semana passada, uma operação com o objetivo de averiguar a proteção da denominação de origem ou de indicação geográfica em vinhos de mesa, em estabelecimentos de restauração e bebidas nos concelhos de Coimbra, Mealhada e Anadia.
Como balanço da ação foram inspecionados oito estabelecimentos de restauração e bebidas, tendo sido instaurados dois processos de contraordenação por práticas comerciais desleais e ações enganosas, devido a ter sido detetado em cartas “Vinhos da Bairrada”, a inclusão de outros vinhos sem direito à denominação de origem, induzindo em erro o consumidor através de uma omissão da categoria do vinho.
A certificação dos vinhos com direito à Denominação de Origem “Bairrada”, é garante que um determinado vinho foi produzido nesta região geográfica demarcada, seguindo um conjunto rigoroso de regras e tradições estabelecidas, desde o controlo do tipo de uvas, métodos de vinificação e envelhecimento, garantindo a autenticidade e qualidade dos vinhos certificados.
Os Produtores de uvas deverão ter, no seu Registo Vitícola (RV), as parcelas de vinha exploradas.
A partir desta campanha, passa a ser possível declarar a quantidade de uvas colhidas por parcela.
A apresentação da declaração de colheita e produção (DCP) constitui uma obrigação de todos os Operadores Económicos que tenham colhido uvas e/ou tenham produzido mosto/vinho.
À semelhança de campanhas anteriores, na campanha 2025/2026 a DCP é efetuada através de submissão eletrónica no Sistema de Informação da vinha e do vinho (SIVV).
O acesso é feito através do endereço: https://sivv.ivv.gov.pt
Para a obtenção de um código de acesso deverá ter associado ao seu registo de Entidade um correio eletrónico válido para onde o mesmo será enviado.
Salienta-se a necessidade e iportância dos dados de contacto que constam no SIVV estarem atualizados, designadamente endereço de email e morada, pelo que se solicita a verificação/atualização dos referidos dados.
O prazo de entrega decorre de 1 de outubro até 30 de novembro de 2025.
O não cumprimento desta obrigação constitui infração punida nos termos do n.º 1 do artigo 18.º do Decreto-Lei n.º 213/2004, de 23 de agosto, em conjugação com a alínea b) do artigo 18.º do Regime Jurídico das Contraordenações Económicas (RJCE), previsto no DL n.º 9/2021, de 29 de janeiro.
Anexo I da DCP disponibiliza as parcelas de vinha do Registo Vitícola
Os Produtores de uvas deverão ter, no seu RV, as parcelas de vinha exploradas, devidamente atualizadas e identificadas com as respetivas aptidões.
O sistema só permite a entrega da DCP (âmbito: Colheita), se as parcelas em exploração constarem do RV do Declarante.
As Cooperativas/Vinificadores deverão certificar-se atempadamente que os seus Associados/Fornecedores têm a sua exploração devidamente atualizada no SIVV.
Declaração de Colheita – Uvas à Parcela
No âmbito da presente campanha, os Viticultores passam a poder declarar a quantidade de uvas colhidas por produto e por parcela.
• Para cada produto, o Viticultor deverá indicar as parcelas de origem e associar a cada uma delas a respetiva quantidade de uvas (em kg).
• Caso não disponha dessa informação detalhada, poderá optar por uma distribuição automática das uvas colhidas, proporcionalmente à área em produção (ha) das parcelas selecionadas.
Adicionalmente, nas situações de venda ou entrega de uvas a terceiros, será solicitado ao Viticultor que indique o preço médio da uva (€/kg), discriminado por casta. Esta informação tem carácter estritamente confidencial e será utilizada apenas para efeitos estatísticos.
Estas novas funcionalidades serão acompanhadas, no módulo das DCP’s do SIVV e no site do IVV, IP em https://www.ivv.gov.pt/np4/800/ por um Manual de Utilização e por um vídeo de apoio à submissão da DCP.
Balcões de Apoio
Caso necessite de apoio na submissão eletrónica da DCP deverá dirigir-se a um balcão de apoio das Confederações de Agricultores ou das Comissões Vitivinícolas.
Na Região Demarcada do Douro e na Região dos Vinhos Verdes o apoio é assegurado por um conjunto de entidades pertencentes ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP, I.P.) e à Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVR VV), respetivamente, estando autorizadas a submeter as DCP’s, nos sistemas de informação próprios, remetendo depois os dados ao IVV, I.P.
Fonte: Agroportal
A União Europeia (UE) prometeu um rótulo nutricional na frente da embalagem, como o Nutri-Score. Mas o plano desapareceu. A Comissão recusa-se a divulgar os documentos que explicam o motivo — mesmo depois de ter sido acusada de má administração.
Em 2020, a Comissão Europeia prometeu implementar um rótulo nutricional frontal obrigatório em toda a UE, como parte de sua Estratégia do Prado ao Prato. O objetivo era claro: ajudar meio bilhão de consumidores a fazer escolhas mais saudáveis e reduzir doenças relacionadas à alimentação. Mas então, sem explicação, a proposta desapareceu.
Desde 2023, a Foodwatch solicita à Comissão os principais documentos que explicam esta reviravolta: a Avaliação de Impacto, o parecer do Conselho de Controlo Regulatório e as atas das reuniões relevantes. A Comissão recusou-se a divulgá-los. O Provedor de Justiça Europeu decidiu posteriormente que esta recusa constituía má administração . Mesmo assim, quase três anos depois, nenhum documento foi divulgado.
Como se trata de documentos legislativos — e a legislação da UE é absolutamente clara: tais documentos devem ser transparentes. Os cidadãos não podem ser excluídos das decisões que moldam suas escolhas diárias.
Por que o Nutri-Score é importante
O Nutri-Score conta com o apoio da OMS Europa e de diversos cientistas independentes. Já conta com apoio voluntário em seis países da UE — França, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Espanha, Holanda — e Suíça.
Mas sem um sistema obrigatório em toda a UE, a implementação é irregular e inconsistente. Os consumidores recebem sinais contraditórios e as empresas alimentares não têm incentivo real para reformular receitas pouco saudáveis.
Então, por que a legislação foi abandonada? Ela realmente não estava pronta — ou foi o poder de lobby de uma indústria alimentícia com interesses escusos? Transparência é o primeiro passo para descobrir.
Saúde pública em jogo
Obter acesso a esses documentos faria mais do que esclarecer o que aconteceu com o Nutri-Score. Estabeleceria um precedente importante para a transparência na próxima vez que interesses poderosos tentarem diluir a legislação de saúde a portas fechadas.
O que vem a seguir?
O caso perante o Tribunal Geral está em andamento. A Foodwatch continuará a lutar pela divulgação dos documentos para colocar o Nutri-Score de volta na agenda da UE — onde ele pertence.
Por enquanto, uma coisa é certa: meio bilhão de consumidores da UE merecem respostas diretas.
Fonte: Foodwatch
Cada português desperdiça por ano 182,7 quilos de alimentos, indicam os dados mais atualizados (2023) do INE, que revelam uma ligeira diminuição do desperdício em relação ao ano anterior.
Os dados hoje divulgados mostram que no ano de 2022 cada português desperdiçou 184 quilos de alimentos, uma subida face aos 180,6 quilos de 2021 e aos 174,5 quilos de 2020.
Em 2023 desperdiçaram-se em Portugal 1,9 milhões de toneladas de alimentos e os principais “culpados” foram as famílias, com 66,8 desse desperdício atribuído a elas. O comércio e distribuição foi responsável pelo desperdício de 12% do total, a restauração, hotelaria e similares de 11,5%, a produção primária por 6,8% e a indústria por 2,9%.
De 2020 para 2023, em termos gerais, houve um aumento no desperdício das famílias mas uma descida em 2023, no comércio e distribuição o desperdício tem vindo sempre a aumentar, e na restauração houve um aumento de 2021 para 2022 e um ligeiro aumento em 2023.
Na produção primária os dados não permitem indicar uma tendência e a indústria tem vindo a diminuir o desperdício.
Portugal tem sido assinalado como um dos países da União Europeia, o quarto, que mais desperdiça alimentos. Por ano a Europa manda para o lixo cerca de 88 milhões de toneladas de alimentos.
Fonte: Away
Está aberto, até 24 de outubro, um concurso para financiamento de projetos no âmbito do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável para entidades coletivas privadas sem fins lucrativos
De acordo com os termos do aviso, “pretende-se financiar um projeto que vise promover refeições mais saudáveis, mas também saborosas e apelativas para crianças e jovens, em pelo menos duas das cinco regiões de saúde, criando soluções com impacto e potencial de replicação”. O projeto-piloto deverá sensibilizar as escolas, comunidade educativa e municípios para a importância da oferta alimentar escolar saudável, saborosa e apelativa para crianças e jovens, definir e implementar estratégias de intervenção que promovam a melhoria da qualidade da alimentação disponibilizada nas escolas, desenvolver propostas de refeições e snacks para disponibilizar nos refeitórios e nos bufetes escolares, que sejam saudáveis, saborosas, apelativas para crianças e jovens e adequadas ao contexto escolar, criar materiais de apoio à implementação do projeto desenvolvido que permitam a sua replicação a nível nacional do projeto e incorporar estratégias de intervenção inovadoras capazes de potenciar os resultados e o impacto do projeto.
Deverão ser abrangidos pelo menos 10 estabelecimentos de ensino, de áreas geográficas pertencentes a pelo menos duas das cinco regiões de saúde.
Fonte: TecnoAlimentar
Investigadores da Universidade de Kobe, no Japão, desenvolveram uma alternativa sustentável ao plástico PET, recorrendo a bactérias E. coli geneticamente modificadas para produzir um material biodegradável com potencial para substituir os plásticos derivados do petróleo.
Uma equipa de bioengenheiros da Universidade de Kobe anunciou um avanço promissor na luta contra a poluição causada pelos plásticos. Os investigadores conseguiram modificar geneticamente bactérias do tipo Escherichia coli para que estas produzam um composto chamado ácido piridínico dicarboxílico (PDCA) a partir de glicose. O PDCA distingue-se por ser biodegradável e por apresentar propriedades físicas comparáveis — ou até superiores — às do plástico PET, amplamente utilizado em embalagens e têxteis.
O estudo, publicado na revista científica Metabolic Engineering, revela que a equipa japonesa alcançou uma produção de PDCA em biorreatores sete vezes superior à registada anteriormente, sem gerar subprodutos indesejados. Isto representa um grande passo na criação de materiais mais ecológicos, reduzindo a dependência do petróleo e os impactos ambientais associados.
Segundo o investigador principal, Tanaka Tsutomu, a maioria das tentativas de criar plásticos sustentáveis tem-se focado em moléculas simples compostas apenas por carbono, oxigénio e hidrogénio. “O nosso grupo decidiu explorar moléculas que também incorporam azoto, como o PDCA. Este processo, baseado em reações metabólicas, permite uma produção mais limpa e eficiente”, explicou.
Durante a investigação, a equipa enfrentou um desafio importante: uma das enzimas envolvidas no processo gerava peróxido de hidrogénio (H₂O₂), uma substância altamente reativa que acabava por danificar a própria enzima. Os cientistas resolveram o problema ajustando as condições de cultivo e adicionando um composto que neutraliza o H₂O₂.
Apesar de este ajuste poder aumentar os custos e a complexidade da produção em larga escala, os investigadores acreditam que o método tem um grande potencial. “Conseguir produzir quantidades suficientes em biorreatores é o primeiro passo para tornar este material viável comercialmente”, afirmou Tanaka.
Se bem-sucedida, esta tecnologia poderá revolucionar a indústria do plástico, oferecendo uma alternativa biodegradável e sustentável que ajuda a combater a poluição e a reduzir a dependência de recursos não renováveis.
Leia o estudo aqui.
Fonte: CiB
A batata continua a ser o quarto cultivo agrícola mais importante da União Europeia, mas está longe da estabilidade de outros tempos. Desde 2000, a produção caiu 36,7%, menos 27,9 milhões de toneladas em apenas duas décadas. Em 2023, a colheita chegou a 48,3 milhões de toneladas, ligeiramente acima de 2022, mas a tendência de longo prazo é de queda. O problema não é apenas quantidade: é conservação.
O clima instável dificulta o planeamento e agrava as perdas no campo. A restrições ao uso de fitossanitários, como a proibição do CIPC (clorprofame), usado para evitar a germinação durante o armazenamento, teve impacto imediato, especialmente em França, que antes abastecia o mercado europeu praticamente todo o ano. Enquanto alguns países (como Itália, que usava menta) sentiram pouco impacto, outros, como Espanha e Portugal, dependem mais das importações, pois a produção local não cobre todo o ano e, sem capacidade de armazenamento prolongado, a cadeia logística depende da coordenação entre diferentes origens.
A União Europeia enfrenta atualmente um défice na produção de batata, que é compensado por importações, especialmente no final do inverno e início da primavera, quando a colheita europeia ainda não está disponível. Importou batatas no valor de 356,3 milhões de euros em 2023, sendo que as batatas precoces representaram a maior parte das importações. França, Países Baixos e Alemanha foram os principais comerciantes de batata dentro da União Europeia, representando juntos uma grande parte das exportações intra-UE em termos de valor. França, sozinha, foi responsável por 30,4% das exportações intra-UE de batatas.
Mas a capacidade exportadora de França tem vindo a reduzir-se, abrindo espaço para fornecedores sazonais, como o Egito, Israel e, em menor escala, o Chipre, que preenchem temporariamente os vazios da oferta local durante os períodos críticos. Neste cenário, produtores, distribuidores e legisladores têm de lidar com um equilíbrio delicado entre qualidade, sustentabilidade e abastecimento contínuo, num mercado onde a cooperação internacional já não é opcional — é vital.
Durante anos, a política agrícola europeia foi marcada pelo Pacto Ecológico Europeu e pela estratégia Do Prado ao Prato, que fixava metas ambientais ambiciosas, incluindo a redução para metade do uso de pesticidas químicos. A visão era ecológica, mas, para muitos no sector, irrealista. A situação agrava-se com a lentidão regulatória: pedidos de aprovação de pesticidas biológicos “podem demorar mais de cinco anos”, travando a inovação.
A reação não tardou. Mobilizações agrícolas em vários países, combinadas com o impacto das eleições europeias, levaram a uma “mudança de tom” na Comissão Europeia, com uma nova direção que está mais focada em competitividade e simplificação regulatória, deixando em segundo plano a retórica ambiental mais rígida. Como resume Berta Redondo, secretária geral da Europatat, “a comissão anterior tinha metas ambiciosas, como reduzir em metade o uso de pesticidas químicos. Mas isso era insustentável — nenhum país apoiou essa ideia. Agora, após as eleições europeias, há claramente uma mudança de tom. Já não se fala do Green Deal, já não se fala Do Prado ao Prato. Agora, fala-se de competitividade e de simplificação. O discurso passa para ‘vamos tentar assegurar que, se não houver soluções no mercado, então, um produto não é simplesmente retirado’”.
A nova abordagem promete acelerar a aprovação de soluções alternativas, como pesticidas biológicos, um ponto crítico para sectores como o da batata, que sofrem com a lentidão dos processos de homologação. “Hoje em dia, por exemplo, uma empresa que, em 2019, tenha iniciado o processo para registar um produto, ainda não o tem aprovado. A ideia é que este processo seja mais rápido, para facilitar a chegada ao mercado de novas soluções”, acrescenta.
Para a responsável, os maiores desafios que o sector enfrenta, ao nível da produção, são, efetivamente, as pragas e as alterações climáticas. “Estamos a ver pragas que antes existiam apenas no sul da Europa a subirem para o norte. Por exemplo, o alfilerillo e os wireworms. Na Áustria, por exemplo, já enfrentam grandes problemas com estes insetos. Isto acontece num momento em que há cada vez menos substâncias ativas disponíveis — menos produtos para tratar estas pragas. No fim, o agricultor tem menos ferramentas para lidar com o problema”.
O novo discurso representa uma mudança estratégica para a agricultura europeia. Em vez de impor cortes drásticos sem substitutos, a política passa a considerar o impacto económico e operacional nas cadeias de produção e abastecimento.
É neste cenário que a Europatat, a Associação Europeia de Comércio de Batata, se assume como uma peça central. Ao congregar produtores, comerciantes, exportadores e representantes nacionais de toda a Europa, cria um espaço neutro de diálogo e estratégia, onde países com realidades muito diferentes podem encontrar soluções comuns. “Na Europatat, não fazemos lobby por uma substância específica, porque acreditamos que isso é trabalho dos fabricantes ou produtores. Mas defendemos uma regra clara: não se podem retirar produtos do mercado de um dia para o outro sem que exista um substituto funcional. Não estamos a falar de substitutos ‘naturais’, mas de algo que realmente funcione. Por exemplo, para o alfilerillo, neste momento, não existe nada eficaz. Algumas alternativas biológicas estão a ser testadas, mas ainda não há soluções verdadeiramente eficazes. Este é um desafio muito importante para o sector”.
Representar o sector
Fundada em 1952, a Europatat é a principal plataforma representativa do sector de comércio de batatas — tanto para consumo como para semente — a nível europeu, atuando como elo de ligação entre produtores, comerciantes e instituições europeias. Está sediada em Bruxelas e congrega hoje 71 membros em mais de 20 países, incluindo Portugal (Porbatata), através de 19 associações nacionais, 44 empresas e oito membros associados. Juntos, estes membros representam mais de 80% da produção total de batata na Europa.
A Europatat tem como missão representar, promover e defender os interesses do comércio de batata de semente e de consumo no espaço europeu e internacional. Para isso, aposta em três pilares: lobby e representação junto das instituições da União Europeia, coordenação e partilha de informação entre membros e promoção e educação sobre os benefícios da batata, tanto para consumidores como para decisores políticos.
No contexto atual — marcado por alterações climáticas, desafios regulatórios e mudanças no consumo —, a associação desempenha um papel vital na defesa de políticas pragmáticas. Mas não é apenas uma entidade de lobby: é um ponto de encontro para resolver problemas coletivos. Como resume Berta Redondo, “quando as pessoas vêm à Europatat, vêm com o espírito de ‘temos um problema – vamos encontrar uma solução juntos’”.
Atualmente, a associação estrutura o seu trabalho através de cinco comissões permanentes, cada uma dedicada a um segmento ou desafio específico do sector da batata: batatas de semente, batatas para consumo, sustentabilidade, assuntos técnicos e regulatórios e RUCIP. Estas comissões discutem tudo, desde novas regras de rotulagem a soluções biológicas inovadoras, legislação sanitária e estratégias de promoção ao consumidor, funcionando como centros operacionais, onde representantes de associações e empresas-membro discutem problemas, alinham posições e desenvolvem soluções conjuntas. “O RUCIP é um sistema de arbitragem específico para o sector da batata. Quando duas empresas — um produtor, um embalador ou uma empresa de sementes — fazem uma transação de batatas, podem incluir uma cláusula, assegurando que algum problema ou mal-entendido é resolvido através do RUCIP. Ou seja, em vez de ir a um tribunal normal, organizamos um processo de arbitragem, com um painel de árbitros e peritos especializados no sector da batata, que é uma boa forma de garantir que o caso é analisado por quem entende do sector e também é muito mais barato do que ir para os tribunais”, explica a responsável.
Manter a batata europeia viva
Num sector agrícola pressionado por crises climáticas, volatilidade de preços e regulamentações cada vez mais complexas, a fragmentação seria uma sentença de vulnerabilidade. Sem uma estrutura coordenadora, o mercado europeu da batata correria o risco de se transformar num mosaico disperso de interesses nacionais, sujeito a políticas erráticas, normas pouco ajustadas e à concorrência feroz de países terceiros.
A Europatat é essa voz. Não cultiva, não embala e não exporta, mas garante que todos aqueles que o fazem possam continuar, com regras claras, previsibilidade e uma estratégia partilhada a nível europeu.
O papel da associação vai muito além da representação política. Para economias onde a batata não tem o peso político de outras culturas — como Portugal — esta rede é uma alavanca estratégica, amplificando a influência e a capacidade de negociação junto da Comissão Europeia.
Novas regras ambientais exigem adaptações rápidas e consumidores cada vez mais atentos pedem transparência e sustentabilidade, logo, a coesão torna-se indispensável. A Europatat fornece não só dados e análises atualizadas, mas também um enquadramento para que produtores, comerciantes e embaladores consigam antecipar tendências e responder de forma coordenada. “Na comissão de sustentabilidade, que foi criada há três anos, reunimos todos os membros — é o que chamamos de uma comissão horizontal — e falamos de tudo o que este tema pode afetar, desde a produção até ao transporte, às embalagens, ao consumo de água. Analisamos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e identificamos quais seriam os mais relevantes para o nosso sector e de que forma as empresas podem agir. A ideia é dar-lhes uma noção de onde podem olhar e atuar”, explica Berta Redondo.
A Europatat tem membros com dimensões muito diferentes, desde grandes empresas multinacionais, como as principais casas de sementes, a empresas muito pequenas, familiares, com três ou quatro pessoas. Hoje, mais do que uma associação, a Europatat é a coluna vertebral de um sector que alimenta milhões, gera milhares de empregos e, com visão e resiliência, continuará a crescer no competitivo mercado global. No fim, o futuro da batata europeia decide-se tanto nos campos como nas mesas de negociação em Bruxelas e, em ambos, a cooperação é a chave.
Fonte: Grande Consumo
A Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) disponibiliza, a partir de dia 17 de setembro, o Sistema de Prevenção e Controlo de doenças nos animais (SPC).
O SPC desmaterializa e simplifica os processos relativos à notificação de suspeita de doença de declaração obrigatória dos animais e respetivas emergências sanitárias e ainda, os processos de gestão da biossegurança das explorações.
O SPC é uma plataforma digital gerida pela DGAV, destinada a ser utilizada pelos serviços veterinários oficiais, produtores, médicos veterinários (municipais, das OPSA, responsáveis sanitários e privados) e técnicos de laboratórios.
O SPC tem as seguintes funcionalidades:
O SPC permite a interoperabilidade com outros sistemas de informação da DGAV, designadamente – Sistema Informativo da Sanidade dos Suínos (SISS), a Aplicação de Notificação Imediata de Animais Selvagens (ANIMAS), entre outras, apoiando assim, a tomada de decisão, por parte de todos os intervenientes.
A autenticação de acesso ao SPC efetua-se através do portal do IFAP, IP (iDigital), pelo que será necessário solicitar previamente à DGAV as credenciais de acesso. Com estas credenciais pode aceder ao SPC através do endereço https://spc.dgav.pt, ativo a partir do dia 17 de setembro 2025.
O SPC foi financiado pela AMA – Agência para a Modernização Administrativa, IP.
Conheça aqui o vídeo do SPC.
Fonte: DGAV
Subscreva a Base de dados Qualfood Negócios!